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Entrevista – Patrícia Müller: «A ficção portuguesa está a atravessar uma fase de ouro»
O Quinto Canal traz até si uma entrevista com Patrícia Müller, autora das séries Vanda e A Rainha e a Bastarda, em exibição na plataforma OPTO e na RTP, respetivamente.
Vanda é escrita por Patrícia Müller, realizada por Simão Cayatte e produzida por José Amaral na SP-i. Estreou a dia 24 de Março, na plataforma OPTO da SIC, com episódios semanais às quintas-feiras.
A Patrícia concluiu a licenciatura em Ciências da Comunicação, na Faculdade de Ciências Sociais e Humanas da Universidade Nova de Lisboa, em 2000, tendo depois começado a trabalhar como jornalista na revista Elle. O que é que a atraia no jornalismo?
Na altura, a ideia de ser guionista e escritora ainda não estava na minha cabeça. Queria ser jornalista. E na minha geração toda a gente queria ser jornalista de guerra, querendo mudar o mundo através do jornalismo. Já eu tentei fazê-lo através da ficção.
Rosa Fogo esteve nomeada para o Emmy Internacional de Melhor Telenovela em 2012. O que esse reconhecimento significou para a Patrícia?
Não estava nada à espera porque foi um processo difícil. Naquela época, as novelas da TVI estavam super fortes, portanto, a concorrência era grande. Foi muito incrível ter ido a Nova Iorque.
A última telenovela que a Patrícia escreveu foi Poderosas, em 2015, tendo passado a dedicar-se sobretudo às séries e à literatura. Não sente falta do formato?
Sim, eu adoro novelas. Mas eu gosto deste formato mais curto. Só tenho que pensar mais e ser rápida a fazer.
Sente que o público quando leu o livro e/ou assistiu Madre Paula na televisão percebeu tratar-se de uma história de amor e não um mero caso de um rei promíscuo com uma amante?
Eu acho que as pessoas perceberam que era grande história de amor entre um rei e uma freira. Tinha também um lado picante que as pessoas gostaram.
Madre Paula e A Rainha e a Bastarda são duas séries que chegaram à televisão após a Patrícia ter escrito os livros. Quando escreveu os romances teve ideia que pudessem ser produzidos?
Na Madre Paula nunca pensei. N’A Rainha e a Bastarda, como já tinha tido a experiência da Madre Paula achei que podia ser interessante.
Para fazer A Rainha e a Bastarda, tal como noutros trabalhos, a Patrícia necessitou de fazer um trabalho exaustivo de pesquisa histórica. Como descreve a sua motivação quando ia trabalhar para a Biblioteca Nacional?
Nem sei bem qual era a motivação, sendo que a partir de certa altura a pessoa já o faz automaticamente e não desiste. Tem a ver com um traço de personalidade meu.
A Generala, que a Patrícia escreveu juntamente com Vera Sacramento, foi o primeiro produto de ficção desenvolvido especificamente para a plataforma OPTO, da SIC. De que forma lidou com a responsabilidade de escrever para esse novo modelo de mercado?
A Generala foi um produto muito bom que escrevi com a Vera e a foi a primeira vez que trabalhei para a OPTO. É uma história muito boa, ainda mais com o surgimento dos novos modelos de streaming em Portugal, foi uma boa aposta. Temos mesmo que ir por aí. Dá-nos mais liberdade em algumas coisas.
Vanda: A Viúva Negra é inspirada em factos reais, designadamente na história de Dulce Caroço. De que modo encarou a responsabilidade de fazer uma série que retrata esse caso mediático?
Foi uma grande responsabilidade, porque foi a primeira vez que escrevi sobre uma pessoa que está viva e com quem, inclusive, falei para fazer esta história. Fui ter com ela e quis homenageá-la. Tive sorte porque a Dulce foi queridíssima e confiou em mim. É uma pessoa especial.
Através das personagens e histórias desenvolvidas pela Patrícia é possível verificar uma abordagem do que tem sido a condição feminina ao longo dos tempos. O que considera que se deve fazer para consciencializar o público dos problemas e desafios das mulheres?
Escrevo muito para mulheres porque acho que percebo o universo feminino. A ideia do empoderamento feminino interessa-me. Também tenho uma filha. Além disso, o mundo onde estou é uma área muito masculina. Portanto, tive que trabalhar muito nesse sentido.
A Patrícia tanto é uma argumentista que conta histórias que decorrem em décadas e séculos anteriores como de histórias passadas na contemporaneidade. O que procura ter sempre presente nas histórias que trata?
Nem sempre uma boa história é uma boa ficção. Há histórias incríveis de vida que não dão boas ficções. Acho que as histórias têm que ser alguma coisa com conclusão, não moralista mas moral. Por isso é que a ficção é tão mais interessante para mim do que a realidade, porque estas histórias muitas vezes têm ideias e conceitos muito fortes.
Por exemplo, na Vanda a ideia não era só ela assaltar bancos. Era uma mulher sozinha a assaltar bancos, sem recorrer a violência e ir atrás das instituições que a prejudicaram. É um manifesto de força e poder.
N’A Rainha e a Bastarda é recontar a história de Portugal no sentido de que a Rainha Santa não é aquele mito que nós falamos.
Há sempre mais qualquer coisa do que apenas contar uma história. Tem que ter sempre uma ideia e um conceito.
Quais são os desafios que a ficção portuguesa deve enfrentar no momento presente?
A ficção portuguesa está a atravessar uma fase de ouro. Estamos com as plataformas a entrar cá, com o investimento dos operadores. Estão a fazer-se coisas muito interessantes.
Pode adiantar-nos alguma coisa sobre projetos futuros?
Tenho várias coisas em mãos. Assim que possa avisarei. Por agora, espero que vejam a Vanda e A Rainha e a Bastarda.