Lurdes Baeta: «Todas as manhãs vamos ver os números do dia anterior, é mesmo assim»
Quem é a Lurdes Baeta?
Jornalista há 19 anos, mãe de 3 filhos, mulher de 41 anos e algarvia.
Desde pequenas, muitas pessoas têm o sonho de exercer determinada profissão. No seu caso, sempre quis ser jornalista ou também passou pelas dúvidas que os jovens colocam na altura de escolher um curso?
Só no momento de fazer as candidaturas à universidade decidi escolher comunicação social. Sou do Algarve, teria de vir estudar para Lisboa, e tudo isso foi decidido no último momento. Escolhi comunicação social em primeiro lugar e depois direito. Em última instância iria para uma área de turismo. Entrei na primeira opção. Depois consegui entrar para a TVI, para fazer a pesquisa e documentação de um programa do Artur Albarran, e só aí, no acompanhamento das reportagens, do programa em directo percebi que era aquilo que queria fazer, jornalismo na televisão.
II
Lida bem com a pressão exercida no jornalismo?
Sim, sou naturalmente calma, e de reacção rápida e intuitiva, que é muito útil em situações de conflito ou de um trabalho mais complexo como coordenar jornais.
Prefere fazer reportagens, entrevistas ou trabalhar como pivô?
O que gosto mais é de fazer directos, operações especiais, eleições, acontecimentos que fujam da normalidade. Gosto muito de apresentar jornais, área em que sinto que estou sempre em aprendizagem.
É também responsável pela parte da coordenação, como é que o desempenho desse papel a estimula?
Neste momento só coordeno em equipa os jornais que apresento, mas é muito interessante decidir aquilo que vamos destacar, debater, escolher o assunto que consideramos de maior relevância e aprofundá-lo, tentar esgotar todos os ângulos. É muito estimulante e não há dias iguais,
Alguma vez pensou em trabalhar na área da rádio?
Por acaso o meu estágio curricular era para ter sido na rádio, mas nunca se concretizou. Trabalhei em rádios locais no Algarve, gostei muito mas a minha vida foi por outro caminho.
De todas as entrevistas que fez até hoje qual foi aquela que mais a marcou e porquê?
Essa é uma pergunta difícil, porque terei feito certamente milhares de entrevistas. Dou-lhe um exemplo, uma mãe cujo filho de seis anos tinha desaparecido. Era dezembro e ela terminou a entrevista a dizer, “e está tanto frio, ele vai ter tanto frio”. Quando desligámos a câmara caíam-me as lágrimas e abracei-a. Quando tocamos a vida das pessoas, é recíproco, elas tocam-nos também.
Nos últimos meses a polémica das audiências tem ensombrado as três estações televisivas. Sente-se pressionada no seu dia-a-dia para alcançar um bom resultado nas tabelas do dia seguinte?
As televisões privadas estão sempre pressionadas para fazer boas audiências, faz parte do pacote, todas as manhãs vamos ver os números do dia anterior, é mesmo assim. Não há uma pressão externa mas o nosso trabalho tem mais efeito quanto mais gente o vir, as audiências medem isso, e servem para melhorarmos o nosso trabalho, o nosso ritmo.
III
Encontrou muitas diferenças no método de trabalho quando se mudou para a TVI24?
A tvi24 é a TVI, não me mudei, continuamos todos lá no mesmo sitio, na mesma redacção. Só o estúdio é outro. A diferença é que na tvi24 faço 3 horas de informação em directo por dia, o que significa que abordamos muito mais notícias, debatemos assuntos, há entrevistas, mais directos. É tudo mais abrangente e com grande tónica no que é última hora.
A profissão de jornalista é conhecida por ser muito exigente em relação ao tempo e horários. Sempre conseguiu conciliar todos os aspectos da sua vida com a profissão que escolheu?
Às vezes não é fácil, mas eu e o meu marido fazemos uma ginástica diária para conciliar horários, os nossos e os das crianças.
Quando chega a casa depois de um dia de trabalho consegue desligar-se do mundo ou está constantemente “sintonizada” com a informação que se passa à sua volta?
Depende. Há dias em que desligo completamente. Outros em que não o posso fazer, tenho de estar a par de tudo.
IV
O mercado da comunicação social sofre há muitos anos com o excesso de profissionais e o consequente desemprego. As universidades portuguesas continuam a aceitar todos os anos centenas de futuros jornalistas. Diria a algum jovem para desistir do seu sonho em troca de um futuro mais promissor?
Tenho a convicção que se o sonho é grande, consistente e aliado a talento e capacidade de trabalho, não deve desistir. Agora se pensa que “ai tão giro a televisão” é melhor pensar duas vezes.
Nos últimos tempos tem-se discutido bastante o futuro do jornalismo. Acha que vamos assistir a uma total transformação daquilo que ele é neste momento?
Provavelmente, com o online e o cidadão repórter.
Acredita que se faz bom jornalismo em Portugal, em particular na TVI?
Sim, acredito que se faz bom jornalismo em Portugal e na TVI, isento, independente, sério.
Imagina-se a trabalhar noutra área diferente?
Sinceramente não, mas às vezes a vida troca-nos as voltas, se tal acontecer espero estar preparada.
Tem novos projetos para breve?
Nada em concreto.
Uma mensagem para os leitores do Quinto Canal.
A tvi24 é uma belíssima televisão de notícias, está no canal 7, espreite, há uma boa equipa de jornalistas a trabalhar hora a hora para lhe trazer toda a actualidade. Contamos consigo. Até já.
Obrigado!