Entrevista – Viviane: «Temos gente nova a fazer música fantástica»

Com novos projetos a caminho, onde se destaca a sua participação como autora no Festival da Canção 2021 e não só, Viviane é a mais recente artista a aceitar o convite do Quinto Canal, para mais uma entrevista exclusiva, que poderá ler de seguida.



Para que não a conhece, quem é a Viviane?

Sou uma cantora compositora que nasceu em França e veio para Portugal com 13 anos. Em 1990 início a minha carreira musical como cofundadora do grupo Entre Aspas que fica em terceiro lugar no concurso de música moderna da camara municipal de Lisboa e edita o seu primeiro CD em 1993 através da editora BMG e conta com 6 álbuns editados e êxitos como a Criatura da noite ou Uma pequena flor. Em 2005 inicia a sua carreira a solo após a extinção dos Entre Aspas e participou nos projetos Linha da Frente, Camaleão Azul e Rua da Saudade.

Quando Tiveres Tempo é o seu mais recente single. Como tem sido a receção do público a este trabalho?

Este single saiu em julho do ano passado e tem tido uma excelente receção por parte do público. A procura pelo vídeo da canção tem sido cada vez maior. O vídeo foi gravado uma semana antes do primeiro confinamento e hoje em dia seria impossível gravá-lo pois trata-se de um baile onde toda a gente se diverte. A letra fala de um tema que toca nas pessoas que é o tempo que devemos dedicar aqueles que são mais importantes para nós sob pena de um dia ser tarde demais. Este tema faz parte da novela Amar Demais atualmente em exibição na TVI.

Com o lançamento deste single, está previsto também o lançamento de um novo álbum em breve? O que nos pode revelar sobre esse novo projeto?

Sim estou neste momento a ultimar o meu sétimo CD com data de saída prevista para este ano. É um CD de originais com canções da minha autoria e não só e que conta na produção com Tó Viegas e Alé Siqueira, reconhecido produtor brasileiro que ganhou várias vezes o prémio Grammy Latino, nomeadamente com projetos como Tribalistas, Carlinhos Brown ou Omara Portuondo.

Como surgiu o gosto pela música na sua vida na sua vida?

O gosto pela música nasceu em mim desde muito cedo. Desde miúda que me lembro de andar sempre a cantar e ainda em França, fui convidada por uma banda local a atuar na primeira parte de dois concertos do Carlos do Carmo. Deve ter sido em 1979 ou 1980 tinha eu 11 anos. Foi para mim um acontecimento que me deixou completamente deslumbrada! Pisar um palco verdadeiro perante uma plateia cheia de gente e depois ouvir o fabuloso Carlos do Carmo e os seus fados foi um momento marcante que me fez compreender que musica seria uma tónica dominante na minha vida.


 


O público ficou a conhecer o seu trabalho através do conhecido grupo Entre Aspas. Que memórias guarda desses tempos?

Foi um período extraordinário de descoberta e de aprendizagem. A banda foi fundada em 1990 juntamente com o Tó Viegas, o Luís Fialho que mais tarde seria substituído pelo Nuno Filhó. Guardo excelentes memórias dos 6 álbuns gravados, muitos concertos por todo o país, de muitas pessoas com quem nos fomos cruzando e com quem partilhamos momento inesquecíveis.

Que principal diferença encontra entre a música feita nos anos 90 e a música que é lançada nos dias de hoje?

A música sofreu uma enorme transformação com a chegada da internet e dos sistemas de gravação digital no final dos anos 90. A partir de então tornou-se muito mais acessível a qualquer músico adquirir um computador e gravar os seus próprios trabalhos, editá-los e divulgá-los através das diversas plataformas digitais.

Antes disso só se gravavam álbuns através das editoras e só se efetuavam gravações em estúdios profissionais que eram muito caros e eram suportados pelas editoras. Hoje em dia há muito mais música editada, mas isso contribui para uma maior desvalorização. Hoje em dia a música tornou-se descartável, o seu consumo é muito mais rápido. Os formatos físicos despareceram, a maior parte das pessoas consome música nos telemóveis a través das plataformas de streaming.

A música tornou-se muito vulnerável e isso reflete-se muito nos rendimentos dos artistas que têm um retorno financeiro insignificante e que praticamente só ganham dinheiro em espetáculos. Por outro lado, acho que há gente muito boa a fazer música com muita qualidade e que merecia ser mais divulgada.

Qual foi o momento mais especial que já viveu em palco?

Tive muitos momentos especiais ao longo da minha carreira, mas talvez um dos que mais me marcou tenha sido no Quénia em 2019 com todo um público num recinto ao ar livre que não conhecia nenhuma das minhas canções e nunca na vida tinha ouvido um fado a participar, a dançar e até a cantar em algumas partes.

Com diversos projetos musicais já realizados na sua carreira, qual foi o que mais a marcou até ao momento?

Não consigo destacar nenhum porque foram todos bastante diferentes uns dos outros e todos eles me proporcionaram experiências fantásticas. Desde o pop rock dos Entre Aspas, à poesia associada à eletrónica da Linha da Frente e do Camaleão Azul, ao meu atual Fado Mediterrânico, passando ainda pelo fantástico repertório de canções com poemas do Ary dos Santos na Rua da Saudade.

Eu gosto de experimentar diferentes linguagens na música e por isso adorei todos estes projetos e entreguei-me a todos eles de alma e coração.

Acredita que a música nacional devia ter um maior destaque e foco na carreira dos artistas portugueses?

Acho que a música portuguesa deveria ter mais promoção na rádio, na televisão e também se deveria apostar mais em festivais para dar a conhecer novos talentos nacionais. Infelizmente falo com muitas pessoas de gerações mais novas do que eu e que pouco conhecem da música que se faz atualmente em Portugal e isso deixa-me triste porque temos gente nova a fazer música fantástica, mas que é muito pouco conhecida.

A promoção hoje em dia é feita pelos próprios artistas através dos seus canais digitais, mas a oferta musical é tanta que por vezes projetos interessantes passam infelizmente ao lado do grande público.



Em plena pandemia, de que forma a cultura se pode reinventar para conseguir sobreviver?

Tem-se recorrido às plataformas digitais que temos felizmente ao nosso dispor, para se manter o contacto com o público durante este período tão duro para este setor e embora ache que nada poderá substituir uma atuação ou exibição ao vivo, penso que a utilização dos formatos online, pelo facto de já estarmos bastante familiarizados com eles, deverão continuar a ser um bom complemento para todas as áreas da cultura.

Mas a situação atual é absolutamente insustentável por muito mais tempo e estamos todos desejando regressar aos palcos e ao contacto com o nosso público sem restrições.

Da música para a televisão, que formatos televisivos gosta de acompanhar?

Gosto de assistir a concertos e de ver programas onde é divulgada a nova música que se faz atualmente no nosso país, mas infelizmente esses programas são quase inexistentes nos canais portugueses. Confesso que não tenho muita paciência para concursos.

O que podem os fãs esperar da Viviane para os próximos tempos?

O meu próximo álbum de originais dentro de algum tempo, a minha participação como autora no Festival da Canção 2021 com o tema “Com um abraço” interpretado pela cantora Ana Tereza, cuja semi-final é este sábado, dia 27 de fevereiro, e ainda algumas datas de concertos marcadas para o próximo mês de abril se a situação epidemiológica o permitir.


André Kanas

http://www.facebook.com/andrekanas

Diretor, Redator e Gestor de conteúdos das redes sociais do QC | Responsável pelas coberturas musicais e televisivas do QC | Integrou o QC em 2013, dado o seu gosto pelo mundo televisivo e não só, sendo que já navega e escreve no universo de blogues e sites de entretenimento desde 2007.

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