Entrevista – Margarida Moreira: «Se o objetivo é interpretar um ser humano que não sou eu tenho de o compreender e de o viver»

O Quinto Canal traz até si uma entrevista com a atriz Margarida Moreira, que participou no filme O Último Banho e protagonizou Maluda.


Maluda é um telefilme exibido pela RTP 2, em novembro. Escrita por Filipa Martins e realizada por Jorge Paixão da Costa, a produção é inspirada na biografia da pintora que nasceu na Índia e viveu em Moçambique, Paris e Lisboa.

Antes de ingressar na ACT – Escola de Atores, estudou Psicologia no ISPA. Chegou a cogitar, em algum momento, seguir essa área?

O ISPA surgiu da necessidade de tirar um curso superior e para mim sempre foi um complemento para a minha vida como atriz. Uma ferramenta que me permite abordar os personagens de uma forma mais completa. Como atividade profissional não é e felizmente não houve essa necessidade.

Estreou-se como atriz profissional em 1999 no Teatro Armando Cortez com Trainspotting, de Pedro Varela, tendo até hoje participado em dezenas de peças. Qual é a importância que o teatro assume na sua vida?

Para mim, o teatro é vida. O teatro será sempre o início, o meio e o fim. O teatro é o local sagrado de criação.

Em 2018 fez o videoclipe Contigo de Carlão, onde contracenou com a sua irmã. O que a levou a embarcar nesse projeto?

Pelo desafio. Surgiu o convite e eu sou fã do Carlão por isso era impossível recusar.

Na novela A Teia deu corpo a uma professora que vive uma história de amor com um aluno, tendo ultrapassado vários obstáculos até ficarem juntos no final. Sentiu algum receio ao abordar uma questão que ainda pode ser vista com preconceito na sociedade portuguesa?

Não, muito pelo contrário. O meu papel não é julgar a personagem, nem esta nem nenhuma. Se o objetivo é interpretar um ser humano que não sou eu tenho de o compreender e de o viver. Aqui tratava-se de amor. A verdade é que o público esteve sempre do lado deste grande amor e no final acabaram juntos. As pessoas compreenderam que se tratava de amor, mas mesmo que não fosse o caso, isso nem me passaria pela cabeça. Não cabe a mim preocupar-me com preconceitos ou julgamentos, isso fica para quem os faz.

Em Diamantino, onde fez de irmã do protagonista, foi premiada no CinEuphoria, Prémios Sophia e Áquila. Quando aceitou esse trabalho calculou que esta comédia fantasiosa pudesse obter tanto reconhecimento?

Nunca se trabalha a pensar no reconhecimento e, por isso, não pensei no assunto, mas a verdade é que o Gabriel Abrantes e o Daniel Schmidt fizeram um filme brilhante e, por esse motivo, merecem todos os aplausos. Ganhámos o Grande Prémio da Semana da Crítica em Cannes e todos estavam a torcer pelo nosso filme. Foi extraordinário. É bom sentir o reconhecimento pelo nosso trabalho.



No ano passado foi lançada a primeira longa-metragem de David Bonneville, gravada antes da pandemia, na qual interpretou Ângela, com a qual foi nomeada para os Prémios Sophia. Como descreve o processo de imersão no universo dessa personagem?

O processo foi sendo construído entre as leituras do guião e os ensaios com o David. Foi um processo passo a passo e as coisas foram surgindo. A verdade é que esta personagem poderia ser apenas interpretada como a má da fita, mas as suas várias camadas mostram a dimensão humana de uma mulher frágil e com problemas.

Em novembro estreou o telefilme Maluda onde foi a protagonista. De que forma lidou com a responsabilidade de interpretar uma mulher extraordinária como Maria de Lourdes Ribeiro?

Com muito trabalho e estudo. O trabalho de pesquisa foi hercúleo. Mergulhei a fundo em tudo o que havia para ver sobre a Maluda e felizmente existe muito material nos arquivos da RTP. Foram dias e noites a estudar a Maluda. Um trabalho que só terminou no último dia de rodagem.

A Margarida fez uma participação na novela Festa é Festa, onde deu vida a Rita. Como foi a experiência de entrar nesse projeto com um registo cómico?

Foi maravilhoso e tenho pena que a personagem não tenha continuado. Foi muito divertido apesar de não ser fácil entrar num projeto que já está a mais de meio e a um ritmo impressionante. Já fiz muitas comédias e é sempre bom regressar a um registo mais cómico.

Já deu vida a dezenas de personagens distintas, entre elas professora, reclusa, pintora, prostituta, repórter televisiva ou freira. Que personagem ainda não fez e gostaria de ter oportunidade de fazer?

Todas. Falta-me fazer todas as personagens…

Pode adiantar-nos alguma coisa sobre projetos futuros?

Neste momento estou entre projetos. Não posso adiantar o que vem aí, mas posso dizer que são coisas muito boas.


Rúben Gomes

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