Entrevista – Lucas Paraizo | Especial Globoplay «Os Outros»

O que acontece quando todos acham que têm razão? Esta foi a pergunta que despertou uma série de acontecimentos na série original Globoplay Os Outros, que estreou na plataforma da Globo no passado mês de maio.

Para conhecer melhor a série e a sua história, apresentamos uma entrevista especial a Lucas Paraizo, autor da mesma, gentilmente cedida pela Globo.


Como surgiu a ideia da construção da trama da série original Globoplay Os Outros?

No final de 2018, eu estava terminando a terceira temporada de ‘Sob Pressão’ e tinha a vontade de falar sobre a polarização da sociedade. O artifício que encontrei para abordar isso foi mostrar a relação inerente entre vizinhos, que são pessoas desconhecidas que convivem lado a lado. Os vizinhos são uma forma alegórica de me referir ao convívio em sociedade. Em um condomínio, há uma mistura de personagens – em um mesmo espaço se relacionam pessoas de diferentes classes sociais, idades e gêneros. Como carioca, vivi a ascensão dos condomínios, o crescimento da Barra da Tijuca, que é um bairro que nasceu trazendo a idealização da felicidade através do consumo, da segurança, da infraestrutura, do empreendedorismo. Foi nesse contexto que criei ‘Os Outros’. Ao mesmo tempo, não quis fazer uma sátira ou um julgamento aos personagens.

Inspirou-se em alguém ou em alguma situação para a construção do roteiro?

A trama nasceu na observação da sociedade. Eu me lembro do caso de uma mãe que entrou em um parquinho para bater em uma criança que machucou o seu filho. Casos como esse são muito comuns e eu busquei tocar em quais são os limites que as pessoas cruzam em prol da sua segurança, felicidade e de sua família. O termo ‘família’ está muito vulgarizado em nosso linguajar, é usado como justificativa para qualquer coisa. Além da questão da violência, que nunca enxergamos em nós mesmos. A série traz essa realidade latente que muitas vezes as pessoas não querem enxergar.

A sua relação com jovens, como professor universitário, ajudou na construção dos personagens adolescentes?

Em geral, os jovens retratados nas tramas audiovisuais são muito idealizados e com uma representação fora da realidade. Buscamos personagens reais, ao mesmo em que nos permitimos licenças ‘absurdas’ que fazem parte dos diferentes gêneros da série. Marcinho (Antonio Haddad) e Rogerio (Paulo Mendes) espelham o que a gente não está querendo ou conseguindo enxergar sobre a nossa juventude, uma geração muito protegida pelos pais e que ainda não se frustrou. Muito do que Cibele (Adriana Esteves) quer evitar que acontece com o Marcinho. Já a Lorraine (Gi Fernandes), vive e sofre por estar em um outro extremo, completamente desprotegida. Ao mesmo tempo, os jovens são a esperança do amor, da escuta e de uma nova perspectiva que não seja a da neurose, do medo e da insegurança. O Pedro Riguetti, a Bárbara Duvivier e o Bruno Rosa são três jovens roteiristas colaboradores que contribuíram imensamente na construção desses personagens reais para a trama, junto com Flavio Araujo e Thiago Dottori, roteiristas muito experientes e parceiros em Os Outros.

Como acha que o telespectador vai olhar para esses personagens?

Quando contamos uma história, jogamos uma lupa de aumento nos personagens que a gente escolhe mostrar. Na série, não existe personagem certo e o errado, o bom e o mau, eles são múltiplos e complexos. Até o Sergio tem seu lado humano no momento que a filha reaparece na vida dele. Em geral, são pessoas boas e com boas intenções, porém, diante das ameaças à sua família, cria-se uma ‘permissão’ para resolver aqueles conflitos da maneira como se acredita. Em algum momento das nossas vidas, teremos reações semelhantes às que os personagens vivem ao longo da série, para o bem e para o mal. Essa complexidade é fundamental para refletirmos sobre a nossa existência. Se as pessoas se enxergarem, sinal que a provocação que estamos fazendo está em curso.

O que destaca sobre os personagens e o elenco?

Eu estou muito feliz com o elenco e acredito que surpreenderemos o público com a escolha de alguns atores para seus personagens. Eu diria que temos vários protagonistas, pois a cada três episódios um novo personagem se destaca. Marcinho (Antonio Haddad) é a figura detonante na história, todo o desenrolar da trama é por um incidente incitante vivido por ele. E a Cibele (Adriana Esteves), sua mãe, é a primeira personagem que reage ao conflito e acaba virando um ponto focal na trama. Arrisco dizer que veremos Adriana Esteves diferente dos papéis que ela já fez. É ela quem dá o tom da série. Tenho também um carinho especial pela Dona Lúcia, vivida pela Drica Moraes, uma atriz multifacetada que se encaixa perfeitamente com as viradas que a série dá. O Eduardo Sterblitch fugirá completamente do que se viu dele até hoje, com um personagem duro e com muito drama. Já o Wando foi um personagem que eu escrevi especialmente para o Milhem Cortaz, ator que admiro muito.


André Kanas

http://www.facebook.com/andrekanas

Diretor, Redator e Gestor de conteúdos das redes sociais do QC | Responsável pelas coberturas musicais e televisivas do QC | Integrou o QC em 2013, dado o seu gosto pelo mundo televisivo e não só, sendo que já navega e escreve no universo de blogues e sites de entretenimento desde 2007.

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