Emídio Rangel: «[Com a privatização] vai-se apenas destruir a RTP»
É com indignação que Emídio Rangel fala sobre a privatização do primeiro canal. Numa altura em que a reforma do antigo «homem-forte» da SIC é comentada pelo facto de cerca de 80% dos 27 mil euros que recebe por mês serem destinados ao pagamento de impostos, o jornal I aproveitou para o entrevistar. Assim sendo, Emídio Rangel adiantou que a privatização da RTP é uma má decisão, uma vez que se vai perder uma estação que previligia o «eixo de sabedoria e conhecimento».
«Vai-se perder a possibilidade de a televisão pública ser um eixo de sabedoria e conhecimento. Nenhum país da Europa ousou dar o passo que Portugal está a dar. Com um canal é impossível fazer televisão pública. Não passou pela cabeça da BBC, dos franceses e dos alemães vender parte da televisão pública e até reforçam a sua presença. O que é que o país vai ganhar? Nada. Vai-se apenas destruir a RTP.», confessou ao referido jornal.
Mas Emídio Rangel vai mais longe, e criticou todos aqueles que dizem perceber de televisão quando, na realidade, trabalham nela há muito pouco tempo: «Em Portugal aparecem pessoas que dizem que sabem tudo sobre a matéria e vai ver-se e conhecem a televisão há menos de um ano. Portugal está praticamente vendido. Dizer que isto é Portugal começa a ser uma ilusão. Isto é mais Angola que Portugal. Já não sei o que querem vender mais. Isto é um dó de alma.»
Por fim, e em relação ao seu afastamento da televisão e ao de José Eduardo Moniz, dois profissionais que marcaram o audiovisual em Portugal, o jornalista confessou já estar habituado a que o povo português não reconheça o valor de determinadas pessoas: «É uma coisa muito portuguesa. Aqui não se valoriza a experiência, o saber e o conhecimento. Aqui com 40 anos um profissional de televisão é velho. É um mal do país, como a inveja. Sobre outras razões só posso especular.»