Luís Franco-Bastos: «Só depois de martelar e refazer é que conseguimos o melhor» – 7 Dias/7 Entrevistas

É humorista e usa a voz para imitar várias figuras públicas. Ficou conhecido através da internet onde ganhou bastante reconhecimento. Na televisão integrou o elenco da série de humor Os Contemporâneos. Sempre sonhou em ser jornalista, mas a vida encarregou-se de lhe trocar as voltas.

Luís Franco-Bastos falou em exclusivo com o 5º Canal numa entrevista onde dá a conhecer um pouco mais do seu trabalho!

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I

Quem é o Luís Franco-Bastos?

Um jovem adulto de 23 anos que tem a sorte de fazer o que gosta e viver do que gosta, e que se lembra disso todos os dias quando sai de casa de manhã para ir trabalhar. Sobretudo nesta fase, em que estou nas manhãs da Antena 3 e sair de casa de manhã significa 7h00.

Quando é que surgiu na sua vida este seu gosto pelo humor e pelas imitações?

O gosto pelo humor, possivelmente, quando nasci. É uma tendência natural da personalidade. As imitações foi ainda em criança, ao ver programas do Herman. Depois desenvolveu-se com o tempo.

Alguma vez pensou chegar a ter o reconhecimento que tem na atualidade?

Quando era pequeno, durante bastante tempo, quis ser pivô de telejornais porque sempre achei que era um bom comunicador, podia ser péssimo em muita coisa mas comunicar era onde me sentia confortável. Portanto, ser reconhecido pelo meu trabalho sempre foi algo que achei que me podia acontecer, como consequência. Quando comecei a fazer humor acreditava que podia ter algum reconhecimento se trabalhasse para isso. Não sabia o que ia acontecer mas felizmente tem corrido bem.

II

Começou na rádio, mas foi a internet que o lançou. As pessoas reconhecem-no na rua?

Sim, volta e meia acontece. Sobretudo em ambientes com muita gente da minha faixa etária, festivais de verão, por exemplo. Por vezes, também pessoas mais velhas. É bom sinal, significa que o meu trabalho está a chegar às pessoas e que lhes agrada.

Como faz para preparar as imitações que nos apresenta? É preciso alguma técnica específica?

As imitações nascem de duas coisas, capacidade de observação, bom ouvido, e depois capacidade de reprodução, aparelho vocal. Começam com um clique no qual reparamos em qualquer coisa por onde pegar, depois é repetir e treinar para de refeiçoar.

Até agora, qual foi a voz mais difícil de imitar?

Possivelmente José Sócrates, até ficar satisfeito com a imitação que fazia e faço dele passou quase um ano. Neste momento, adorava aperfeiçoar o meu Passos Coelho, mas ainda não estou satisfeito. Espero conseguir pelo menos antes de ele se demitir. Pode não acontecer.

As mais famosas talvez sejam a de José Sócrates, Cristiano Ronaldo e Bruno Nogueira. Qual foi a mais bem conseguida até ao momento?

Acho que tanto eu, como quem segue o meu trabalho, concorda unanimemente que é o Bruno.

O Bruno Nogueira demorou algum tempo a admitir a brilhante imitação da sua voz feita pelo Luís. Como conseguiu convencê-lo?

Pelo contrário, não demorou nada. Minutos depois de eu o imitar pela primeira vez em público (na Antena 3 em directo, 2008), ele mandou um sms ao [Nuno] Markl que estava a entrevistar-me nesse momento a dizer: «Acordar de manhã e ouvir a minha voz na rádio, sabendo que não estou na rádio, é profundamente assustador.» Mas nem toda a gente é assim, por vezes a reacção é «Hm? Eu não sou assim!».

Diverte-se com o seu talento ou limita-se a fazer os outros rir?

Divirto-me imenso a fazer os outros rir. Aliás, não me vejo a fazer outra coisa.

Acompanha o trabalho de outros humoristas? Quais são as suas grandes referências?

Claro. Em Portugal a primeira e principal será sempre o Herman, mas há mais, claro. De gerações mais próximas da minha, posso dizer que gostava de ter uma carreira e um percurso, pelo menos, parecidos com os do Bruno Nogueira. Não só sou fã do humor dele, mas também da forma como tem gerido a sua carreira. E o facto de, já por várias vezes, me ter convidado para trabalhar com ele, é sinal que estou no bom caminho. Fora de Portugal, posso dizer alguns nomes como Woody Allen, Seinfeld, Robin Williams, Jim Carrey, Frank Caliendo, Pablo Francisco, Dane Cook ou, mais recentemente, Kevin Hart.

Frequentou o curso de Ciências da Comunicação e um dos seus sonhos era apresentar telejornais. Ainda é uma ambição?

Claro que não. Apresentar telejornais era a minha alternativa caso não conseguisse fugir de ter um emprego a sério. Felizmente consegui. Mas agora, mais fora de brincadeiras, claro que ser humorista também é um emprego a sério, apenas mais divertido para mim.

Uma das primeiras experiências em televisão foi em Os Contemporâneos, na RTP. Como se sentiu quando percebeu que estava a fazer TV?

Procurei fazer o melhor possível dentro do que me estava a ser pedido naquele sketch, sem pensar demasiado na quantidade de gente que estaria a ver ou não, ou se era televisão, internet ou o que fosse. Tentei fazer o melhor possível e isso deveria ser suficiente para depois colher bons frutos.

Ambiciona ter um programa seu num qualquer canal?

Claro. Aliás, já fiz parte de um projecto que nasceu da vontade do canal em me dar um programa, O Que Se Passou Foi Isto, na RTP1. O programa tinha um bom elenco e bons textos, mas muitos problemas de cariz técnico e de produção que, infelizmente, impediram os atores e os argumentistas de fazer chegar ao espetador o melhor produto final possível. Desde esse programa percebi que fazer televisão é muito mais complexo do que parece, porque não dependemos só de nós próprios para fazer um bom trabalho. Por isso, quando voltar a ter um projeto meu, só o faço e só embarco nele se tiver a certeza que estou rodeado de uma equipa que permita a todos brilharem. Naquele programa não foi o caso.

Costuma acompanhar alguns programas de televisão portugueses? Se sim, quais?

Sobretudo programas desportivos, muito futebol. E alguns de humor também, claro.

Consegue-se viver unicamente do humor?

Felizmente, sim. É com isso que me sustento e acredito que será assim até ao fim dos meus dias.

III

Um conselho para todos os jovens humoristas que aparecem mas que, por muitos motivos, acabam por não ter espaço para mostrar o seu talento…

Aproveitem todas as oportunidades, open-mics, concursos, etc. Trabalhem no vosso material e não subam a palco com a primeira coisa que vos vier à cabeça. Normalmente, só depois de martelar e refazer é que conseguimos o melhor de nós mesmos.

O que se vê a fazer daqui a 10 anos?

O mesmo. Vou ser humorista, viver de fazer rir, nos mais variados meios (assim o espero, televisão, rádio, espectáculos, gosto de ir fazendo um pouco de tudo), e sustentar-me a mim e aos meus filhos com isso.

Considera que o seu trabalho ganhou com a crise?

Sim e não. A crise traz sempre material, por outro lado amedrontou todos os postos de decisão que têm o poder de apostar em humor, seja na televisão, nos teatros, etc. Mas não quer dizer que não consigamos fazer o nosso trabalho. No humor, no trabalho ou na vida, quem não se adapta, morre.

Uma mensagem para os leitores do 5º Canal.

Espero que gostem da entrevista e se vierem a conhecer o meu trabalho, que gostem também. E obrigado também ao 5º Canal pela entrevista, estarei sempre às ordens.

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Obrigado e muita sorte para o futuro!

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