Entrevista – Roberta Medina | Especial «Rock in Rio Lisboa»

No ano em que o Rock in Rio Lisboa celebra a sua sétima edição, o Quinto Canal faz a contagem decrescente para o maior festival do mundo com uma entrevista exclusiva à empresária e produtora de eventos responsável pela sua realização: Roberta Medina. O balanço do festival em terras lusas, a comparação de line-ups entre países e ainda algumas curiosidades sobre o evento são alguns dos temas abordados nesta entrevista.

Nós apostamos e acreditamos em Portugal. Cada edição tem os seus desafios.

Realiza-se em 2016 a sétima edição do Rock in Rio Lisboa. Que balanço faz desde a sua primeira edição em 2004?

O balanço é muito positivo. Desde que chegou a Portugal, o Rock in Rio-Lisboa posicionou-se como um verdadeiro “parque temático” da música, com uma oferta ímpar de entretenimento, dirigido a públicos de diferentes gostos e faixas etárias. E desde a primeira edição em solo português, onde o público viu e ouviu artistas como Paul McCartney, Foo Fighters, Amy Winehouse, Rolling Stones, Bon Jovi, Metallica, Black Eyed Peas, Gilberto Gil, Sting ou Alicia Keys, que o evento entrou na vida e no coração dos portugueses.

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Doze anos depois, o Rock in Rio-Lisboa já faz parte da vida dos portugueses que, com família ou amigos, viveram experiências incríveis e inesquecíveis na Cidade do Rock. E nestes 12 anos é incrível ver o quanto o evento cresceu! A oferta de música e entretenimento tem vindo a superar as expectativas do público de edição para edição, com a criação da Rock Street e da Street Dance, por exemplo, espaços de diversão como a roda gigante ou o slide, além da constante inovação no conceito dos palcos e respetivos cenários.

Foi em Lisboa que o evento amadureceu enquanto conceito de entretenimento e, de edição para edição, apostamos cada vez mais na excelência: das infraestruturas, da oferta de divertimento, dos acessos, da diversidade musical (Palco Mundo, Palco Vodafone para os amantes da alternativa, Eletrónica, etc.), apenas para citar alguns aspetos. Em Portugal, país que os artistas referem sempre como tendo um dos melhores públicos do mundo, e em todas as cidades onde estamos, fazemos por inovar a cada ano.

Como surgiu a ideia de trazer o festival para Portugal?

Desde que começámos a trabalhar na 3.a edição do evento, no Brasil, que ambicionamos fazer do Rock in Rio o “maior evento de música e entretenimento do mundo” para em algum momento sermos capazes de provocar grandes mobilizações globais por um mundo melhor. Por intermédio de algumas pessoas que acreditavam que o Rock in Rio seria uma mais valia para Lisboa, Portugal foi a estreia do Rock in Rio internacionalmente. E logo ficou claro ter sido o melhor caminho. Além da proximidade cultural com o Brasil, Portugal é um país central e extremamente conectado com o mundo, o público é extraordinário e em termos de espaço (Parque da Bela Vista), não podia ser melhor.

Foi incrível acompanhar todo o processo de pré-evento e de construção da marca num mercado novo, ver a reação do público ao entrar pela primeira vez na Cidade do Rock e, depois disso, ver como o mercado respondeu ao Rock in Rio. O impacto do evento em Portugal foi superior ao que estávamos à espera e o Rock in Rio. Ficamos muito orgulhosos ao ouvir o mercado falar do papel de impulsionador que a vinda do Rock in Rio teve no crescimento e incremento dos investimentos locais no que cabe a ativação de marcas e de patrocínios. Agora, o Rock in Rio já faz parte da cultura portuguesa. E esta foi uma aposta que se revelou acertada.

Alguma vez ponderou realizar o Rock in Rio numa outra cidade no nosso país?

Lisboa sempre esteve nos nossos planos para o Rock in Rio em Portugal. E depois de ver a Cidade do Rock montada no Parque da Bela Vista, é impossível imaginar o evento fora dali! É completamente diferente das Cidades do Rock de outros países, mas tem uma envolvência e um encanto tal, que a torna única e tão especial.

Com a crise económica que ainda se faz sentir alguma vez sentiu estar em risco a realização do evento?

Não. Nós apostamos e acreditamos em Portugal. Cada edição tem os seus desafios. Procuramos ver a crise como oportunidade para “pensar fora da caixa” e reinventar a forma de fazer o evento, ser mais criativos e criar novas experiências e novas formas de cativar público, os parceiros e os patrocinadores, sem nunca perder a nossa essência.

Tal como acontece com outros festivais, já poderou a hipótese de realizar o Rock in Rio anualmente?

Já. Tanto no mercado português como brasileiro, realizar o Rock in Rio anualmente implica um investimento bastante elevado que estes mercados não suportariam, pelo que esta não é uma opção viável neste momento.

© Ariel Martini
© Ariel Martini
A edição de 2016 contou com duas alterações no que toca aos dias de realização do evento. A que se deveu essas mudanças?

Sobretudo à agenda dos artistas. Quando planeamos um line-up para um evento com datas pré-agendadas, estamos sempre dependentes da agenda dos artistas, e para trazer Bruce Springsteen, Avicii e Ariana Grande ao Rock in Rio-Lisboa, foi necessário proceder a estas alterações.

O processo de contratação de artistas, no caso de eventos como o Rock in Rio, é muito delicado e demorado. As datas estão pré-agendadas e o artista tem que rever toda a agenda para poder estar aqui, nesse dia. Estas alterações resultaram da nossa vontade de contar com os artistas e da vontade dos próprios em atuar no Rock in Rio-Lisboa.

Os Queen são sem dúvida o nome forte do cartaz este ano. A ideia para os trazer a Portugal já estava planeada desde a última atuação no Brasil?

Estamos muito felizes por trazer esta banda a Lisboa uma vez que foi, sem dúvida alguma, o melhor espetáculo da edição de 2015 no Rio de Janeiro e, além disso, é uma das bandas que faz parte da nossa história pois esteve presente na primeira edição do Rock in Rio, em 1985, na altura ainda com Freddy Mercury.

Os Queen com Adam Lambert têm esgotado concertos por todo o mundo. As suas músicas continuam no top, a tocar nas rádios e dos mais velhos aos mais novos, todos cantam os hits! O concerto no Rio foi arrebatador e o Adam Lambert, sem nenhuma pretensão de substituir o Freddie Mercury, faz cada música vibrar no seu melhor. Logo aí soubemos que tínhamos que os trazer a Lisboa, para a edição que encerra as comemorações dos 30 anos do evento.

Com um público cada vez mas exigente, foi difícil construir o line-up desta edição do Rock in Rio Lisboa?

A negociação com artistas nunca é tarefa fácil e está sempre sujeita a um determinado número de fatores que não dependem de nós.

A equipa responsável pela contratação de artistas para os vários Palcos do Rock in Rio tem sempre o cuidado de fazer uma pesquisa prévia para perceber o que toca e o que o público ouve e quer ouvir, assim como quem são os novos talentos e os projetos mais promissores. Depois de identificados os nomes, começamos a fase das negociações e aqui há que ter em conta vários aspetos, seja a disponibilidade de agenda do artista, se está em tour e se o espetáculo é mais intimista (o que inviabiliza a atuação em espaços abertos com a dimensão da Cidade do Rock), entre tantos outros.

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Esta edição tem um cartaz que se caracteriza, uma vez mais, pela diversidade, indo ao encontro do público do Rock in Rio – um público tão transversal em gostos e em idades. E conseguimos criar um cartaz que vai ao encontro de todos eles, com artistas mais pop, outros mais rock, um conjunto fortíssimo de bandas alternativas/indie no Palco Vodafone, DJs nacionais e internacionais que vão animar as noites da Eletrónica, havendo até espaço para a música brasileira na EDP Rock Street! E no Palco Mundo, artistas de grandes hits com os quais o público vai cantar do início ao fim!

Quais são as expectativas para esta sétima edição?

Expectativas são as melhores e o público pode vir com uma certeza: 12 horas de muita festa, muita diversão e muita música boa todos os dias!

Vamos ter uma EDP Rock Street com sons e ritmos do Brasil, recheada de performances de rua (capoeira, música, dança) e espetáculos de artistas brasileiros convidados que vão tocar, não só, músicas suas como reportório de outros grandes artistas (vamos ter, por exemplo, Mart’nália a cantar Martinho da Vila); vamos ter o Palco Vodafone com grandes talentos da música nova e que já está a dar que falar entre os fãs da música alternativa, com um cartaz que inclui nomes como Black Lips, Real Estate, Capitão Fausto, B Fachada, entre outros; vamos ter uma Eletrónica renovada que, além de receber cerca de 30 DJs nacionais e internacionais (entre os quais Carl Cox, Hudson Mowhake, Alok, Gus Gus, Nightmares on Wax, DJ Vibe, Diego Miranda, Beatombers, entre outros), vai ainda contar com uma grande novidade: vamos ter uma piscina onde vamos realizar pool parties; e no Palco Mundo vamos ter grandes artistas que vão fazer vibrar o público com os seus hits bem conhecidos de todos – Bruce Springsteen, Queen+Adam Lambert, Hollywood Vampires (o grupo que junta Alice Cooper, Joe Perry e Johnny Depp), Maroon 5,  Avicii e Ariana Grande são alguns deles.

Mas a grande surpresa acreditamos que será o espetáculo Rock in Rio – O Musical, mais um passo na inovação de conteúdos que vai abrir o Palco Mundo todos os dias. Esteve nas salas de teatro no Rio de Janeiro e em São Paulo e foi adaptado para um show de 50 minutos, com 40 artistas em palco que vão reviver as três décadas de Rock in Rio através da música.

© Ariel Martini
© Ariel Martini

Rock in Rio é diferente em cada país e nunca quis ser igual. E essa diferença aplica-se, também, ao cartaz.

No que toca às exigências das bandas, quais foram os pedidos mais caricatos que já pediram à organização?

Hoje em dia há menos pedidos extravagantes. Em 1985, na primeira edição, era mais complicado. O Brasil era fechado para o mundo e se alguém pedia uma água Evian, por exemplo, era um drama porque não havia. Hoje em dia já é possível encontrar quase tudo e os próprios artistas são menos excêntricos. É frequente pedirem sumos, águas, frutas, comida vegetariana.

Alguns pedidos engraçados: Elton John especificou os centímetros do vaso que queria com um determinado número de rosas vermelhas e o caule cortado com “x” centímetros. E nós assim o fizemos! Em 2014, os Rolling Stones pediram uma pista de atletismo para poderem correr antes do show. Prince, no Brasil, pediu 500 toalhas brancas e usou umas duas.

E o momento mais marcante? Consegue descrever algum?

É difícil escolher apenas um. Apesar de não o ter vivido, o show dos Queen, em 1985, ficou para a história como um dos momentos mais marcantes de sempre, para o rock in Rio e para a própria banda, que ainda hoje o recorda com muito carinho e emoção. Chegar a um país na altura pouco ou nada conhecido destes artistas e ouvir milhares de pessoas a cantarem “Love of My Life” como uma só voz deixou até a própria banda sem palavras.

Existem algum outro país onde gostasse de realizar o Rock in Rio?

Em 2015 conquistámos mais uma meta ao estabelecer o Rock in Rio nos Estados Unidos, mais concretamente em Las Vegas, a cidade do entretenimento! Foi incrível acompanhar todo este processo e perceber que mesmo ali, “na casa” dos maiores produtores de entretenimento do mundo, o Rock in Rio quebrou barreiras e revolucionou alguns conceitos.

Depois dos Estados Unidos existe, sim, a vontade de levar o evento para outros mercados. Já estão a ser consideradas algumas propostas e talvez em breve tenhamos novidades.

Tem algum artista especial que quisesse trazer ao festival mas que ainda não conseguiu?

O artista que mais queria ver já conseguimos trazer: Robbie Williams! Foi um concerto estrondoso, em 2014. Agora estou ansiosa por ver a reação do público com Queen com Adam Lambert nesta edição, pois tenho a certeza que vai ser um dos momentos altos.

O público inevitavelmente faz muitas comparações entre as edições brasileiras e portuguesas. A que se deve uma mudança drástica no line-up de um país para o outro?

Não se pode falar em “mudança drástica no line-up de um país para o outro” quando o Rock in Rio é diferente em cada país e nunca quis ser igual. E essa diferença aplica-se, também, ao cartaz. O que funciona no Brasil pode não funcionar em Portugal, e vice-versa. Claro que há nomes, como Queen, que são incontornáveis e transversais a todos os públicos. Mas em cada país onde estamos a nossa equipa faz um levantamento para perceber exatamente o que o público quer ver. E é com base no resultado dessa pesquisa que começamos a trabalhar nas nossas “listas de desejos” de artistas.

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Esta edição do Rock in Rio-Lisboa conseguimos ter, não um, mas quatro line-ups fortíssimos (Palco Mundo, Palco Vodafone, Eletrónica, EDP Rock Street), o que reforça a diversidade que só o Rock in Rio consegue oferecer, juntando diferentes tribos no mesmo recinto – a Cidade do Rock – unidos por uma linguagem universal: a música. Sendo ela pop, rock, indie, eletrónica ou samba!


Tal como em 2014, o Quinto Canal uma vez mais vai marcar presença no Rock in Rio Lisboa. Pode recordar os melhores momentos da última edição clicando aqui.

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