Foi Notícia: Os 000 que ficam por pagar aos atores e locutores portugueses
Os tempos que correm não são de facilidades e se, a cada ano que passa, pensamos que o futuro será melhor, parece que chegamos numa dada altura à conclusão de que essa máxima não é afinal verdade. Na área da comunicação os “podres estão à vista”: baixo investimento nos media, quebras nas vendas dos jornais e revistas, despedimentos de jornalistas, fins de contratos de exclusividade e, porque não, a ausência do pagamento dos vencimentos aos mais diversos profissionais?
Há um ano atrás a Notícias TV relatava vários episódios sobre este último tema. Muitos atores e locutores queixaram-se à edição número 211 da revista que integra o Diário de Notícias e Jornal de Notícias.
Bruno Nogueira foi dos primeiros a tornar essa situação pública. De acordo com o ator, muitas eram as empresas que até a data lhe deviam milhares de euros: «A partir da próxima semana vou começar um jogo muito divertido. Consiste no seguinte: a partilhar aqui o nome das produtoras que me devem dinheiro. Vai ser espetacular. Há umas que estão em primeiro lugar, que são locutoras de rádio e televisão. Procuro resolver esta situação da forma mais simples. Se não o conseguir, a única solução que me resta será ir pela via legal.»
Esta é uma realidade que não é de agora. Prova disso é o exemplo de Quimbé. Em 1998 o antigo apresentador da estação de Carnaxide emprestou a sua voz a um anúncio de uma conhecida marca de detergentes (Tide), e o resultado não foi o melhor. «O meu primeiro trabalho profissional foi uma situação muito chata. Fiz a campanha para a marca Tide. Depois de fazer a campanha, passou um ano e não me foi feito qualquer pagamento. Decidi então ir ao encontro do cliente que me disse que já estava tudo pago à agência. Acabei por receber só metade do pagamento e em cheque. Na altura, comprei um carro, um Mitsubishi Strakar, mas depois descobri que o cheque que me deram era careca. O responsável dessa agência desapareceu, disseram-me que tinha ido viver para França e, de repetente, vi-me sem dinheiro e com um carro novo em casa!», explicou.
Noutro plano está Luís Filipe Borges, apresentador do 5 para a Meia-Noite, que já se habituou a ter vários pagamentos em stand by. Por outro lado, os cheques sem cobertura passaram a fazer parte do seu vocabulário, algo a que o Estado Português parece estar alheio. «Uma vez pediram-me para levar outro humorista [para um espetáculo] e falei com o Eduardo Madeira, que eu ainda não conhecia muito bem. Pagaram-nos com cheque e, no dia seguinte, o Eduardo Madeira ligou-me a perguntar se eu já tinha ido ao banco porque o cheque dele estava careca. O meu também não tinha cobertura. Voltaram a entregar-nos outros cheques, o do Eduardo já tinha cobertura, mas o meu não. A situação demorou a resolver, desculpavam-se com as contas flutuantes», disse à Notícias TV.
Estas são apenas três situações que nos deixam a pensar. Emprestar a nossa voz e a nossa imagem a uma determinada empresa, filme, anúncio publicitário, usarem-se das mesmas e não respeitarem os termos de um contrato? A isto chama-se crime, fraude fiscal, entre outros tantos nomes com os quais muitos de nós não estamos familiarizados.
Infelizmente, os milhares de euros que devem aos atores e locutores, por exemplo, acabam por demonstrar que é urgente uma fiscalização a casos como os retratados neste Foi Notícia. Para quando?
Já está mais do que na hora!