Entrevista – Michelle Ashford | Especial AMC «Mayfair Witches»
Baseado na trilogia bestseller Lives of the Mayfair Witches, Mayfair Witches é um drama negro que segue a neurocirurgiã Dra. Rowan Fielding (Alexandra Daddario) à medida que ela aprende sobre o seu passado e descobre os seus laços improváveis com uma família de bruxas. Nesta entrevista do AMC, gentilmente cedida ao Quinto Canal, damos Nesta entrevista ao amc.com, falamos com a cocriadora e co-escritora Michelle Ashford, sobre os principais destaques da primeira temporada da série, desde dar vida à Talamasca no ecrã, à evolução da relação entre Rowan e Lasher, e ainda alguns detalhes sobre a segunda temporada.
[CONTÉM SPOILERS]
Tem sido muito interessante falar com o elenco para saber como se tornaram parte deste mundo. A Michelle era uma grande fã desta trilogia, ou abordou este projeto com uma perspetiva mais imparcial? Deve ter sido bastante assustador transformar mais de 1000 páginas numa temporada de 8 episódios!
Sim, eu conhecia a Anne (escritora da trilogia) e, há muitos, muitos, muitos anos, encontrei-me com ela em Nova Orleães, num projeto totalmente diferente. Por isso, conhecia-a bem, mas não era uma leitora voraz da sua obra quase ilimitada. E, claro, eu conhecia o filme Vampire. Eu e o Mark Johnson, produtor executivo, conhecemo-nos há muito tempo, por isso ele veio ter comigo e disse: “Estarias interessada nisto?” Comecei a ler o livro e pensei: “Sabes, isto é muito fixe. É assustador.” E eu gosto muito de filmes de terror e por isso pensei: “Isto é muito interessante.”
Quando me apercebi que o livro tinha mais de mil páginas, pensei: “Uau!” Então, voltei a falar com o Mark para discutir qual seria o foco, e ele disse: “É sobre a médica”. E eu pensei: “O quê?!” Porque eu ainda não tinha chegado lá. Só a conhecemos na página 250! Foi então que decidi que isto era muito importante e que, se o ia fazer, queria fazê-lo com uma escritora muito boa que também fosse muito boa a contar histórias – e essa era a minha amiga Esta! Como trabalhámos juntas em Masters of Sex, eu sabia que a Esta sabe contar histórias melhor do que qualquer outro argumentista com quem já trabalhei, e achei que era disso que precisávamos. Precisávamos de nós os dois para resolver isto tudo.
Tendo também falado com grande parte do elenco e da equipa de Entrevista com o Vampiro, que o Mark também produz enquanto produtor executivo, acho que é isso que um bom produtor faz, certo? Ligar pessoas talentosas!
Sim, absolutamente. O Mark tem uma carreira muito, muito longa e bem sucedida e, por isso, tem relações com praticamente toda a gente no mundo. Ele é muito deferente e põe o talento lá fora, mas este é realmente o bebé do Mark em muitos aspectos, uma vez que ele está a supervisionar o “universo imortal” da Anne Rice.
Penso que um dos momentos mais satisfatórios surge no episódio 6, quando finalmente assistimos ao nascimento de Lasher e ficamos a saber como ele se tornou parte integrante do legado dos Mayfair. Grande parte desta temporada abre um diálogo sobre o bem e o mal, para todas as personagens, mas especificamente em torno de Lasher e Rowan. Pode falar um pouco sobre a relação simbiótica entre eles e como ambos existem neste espaço cinzento entre o bem e o mal?
Foi isso que mais nos desafiou e intrigou a Esta e a mim! Sem soar muito “woo-woo”, havia muitas ideias com que estávamos a lutar e, em termos de Lasher, se lermos psicologia junguiana sobre o “eu sombra”, é isso que ele é. Na verdade, ele é uma parte do Rowan. O “eu sombra” é composto por aqueles impulsos obscuros que muitas vezes as pessoas reprimem porque não se adequam à sociedade educada, são assustadores ou ameaçadores. Percebemos que ele tinha de ser assim.
Ele é uma estranha versão sombra de si própria com a qual ela tem de se confrontar. Tal como acontece com as pessoas, essas partes mais sombrias são afastadas e podem, de facto, parecer-se com outra pessoa. Lasher é a manifestação desses impulsos mais sombrios. Quando Rowan se apercebe que é uma bruxa, tem agora de lidar com o facto de esses impulsos obscuros estarem cada vez mais próximos. Eventualmente, ela vai ter de perceber que são seus, e isso tornou-se muito interessante para nós.
Também achei esses impulsos obscuros, especialmente para as mulheres, muito interessantes. Esta ideia de poder e, se o tivermos, como é que o usamos? Os homens parecem sentir-se muito mais à vontade com o poder e as mulheres menos. Então, para uma mulher com um funcionamento tão elevado como Rowan, esta cirurgiã que tem uma vida muito bem sucedida… o que é que isso significa para ela? Ver uma mulher como ela a exercer o seu poder de forma assumida e confiante ainda é um pouco tabu para muitas mulheres, penso eu. O facto de Lasher lhe ter mostrado isto, “aqui tens o teu poder, o que vais fazer com ele?”. Isso pareceu-nos muito fixe.
Há tantos locais exuberantes representados na série, desde a própria casa da Mayfair em Nova Orleães até à cabana de Suzanne na Escócia. Deve ter sido muito gratificante saltar entre estes diferentes locais para fazer avançar a narrativa. Gostou de passar o tempo a criar num sítio em especial?
Bem, aqui está uma coisa estranha. Como já disse, conheci a Anne Rice há muitos, muitos anos. Conhecemo-nos na casa da First Street quando ela estava a viver lá. Foi lá que ela escreveu a trilogia Mayfair e onde se passa toda a história. Por isso, quando surgiu este projeto e percebi que se tratava da trilogia Mayfair, pensei: “Meu Deus, eu estive sentada naquela casa! Estive sentada naquele alpendre esquisito e a olhar à volta.” É uma casa extraordinária e quando falei com a Esta, ela disse: “Vamos mesmo filmar lá!”.
Para mim, isso foi incrivelmente fixe. A Esta fala sobre ir para o cenário todos os dias e passar por aquela casa – é incrivelmente evocativo. E Nova Orleães é assombrada. É simplesmente assombrada! É um sítio estranho e curioso. A Anne sentiu isso de certeza e, de facto, honrou-o. Comprou uma série de imóveis como uma quase homenagem para manter intacta essa Nova Orleães estranha e arrepiante. Por isso, foi muito, muito fixe poder filmar Nova Orleães para Nova Orleães e ter aquela casa ali.
Foi a Esta que teve a brilhante ideia de trazer a história de Suzanne para primeiro plano. O meio de The Witching Hour é sobre as 13 bruxas designadas, quem eram e onde viviam. É muito, muito aprofundado, mas Esta disse: “E se tivéssemos uma dessas histórias logo no início e fosse este pequeno puzzle estranho que estás sempre a ver? Não sabemos porque é que o estamos a ver. Não sabemos porque é que é na Escócia, porque é que foi há tantos anos.” E eu adorei essa ideia. Por isso, sim, dar vida à Escócia foi muito emocionante, e dou todo o crédito à Esta por isso.
Um dos elementos da história que é tão convincente é a Talamasca e o seu objetivo e – mais uma vez – a sua posição entre o bem e o mal. Ficamos a saber que eles levam muito a sério o seu dever de observar e que não querem intervir quando se trata da profecia. Pode falar um pouco sobre a Talamasca e o que podemos esperar da personagem?
A Talamasca é fascinante. Toda a gente tem a sua própria interpretação quando está a ler um livro. Como o vêem, como o visualizam e tudo o mais. E depois temos a realidade de a transformar numa peça de filme quando pensamos: “Bem, agora vamos ter de a concretizar.” Quando estávamos a falar sobre a Talamasca, adorámos a ideia de que eles estavam unidos pelos seus próprios dons específicos, como o de Ciprien, que estão ligados ao sobrenatural e ao oculto. Também gostámos da noção de que eles são os preservadores da observação e da documentação para que estas coisas façam parte da história. Gostámos muito do facto de tudo isto ser tão antigo.
Quando tivemos de nos debruçar sobre a cenografia, os primeiros esboços e referências que vimos foram retirados do vernáculo de todos os procedimentos que vimos nos últimos 20 anos. Ecrãs de vidro com gráficos e zoom e swishing e todos estes monitores. Nós pensámos: “Oh não, tem de ser exatamente o oposto. Tem de ser como um telefone rotativo numa secretária”. Queríamos realmente explorar isto de forma completamente diferente, porque eles estão a trabalhar a outro nível e têm toda a história por trás deles. Adorámos essa ideia, por isso foi uma das coisas que pensámos fo que eles vão ser mesmo diferentes. Não vão aparecer nos ecrãs e essas coisas todas.
Parece que ainda estão a usar o Dewey Decimal System!
Completamente! E nós pensámos que isso é muito mais interessante porque fala da longevidade, da dedicação, do que se tem passado com este grupo durante literalmente centenas de anos. E adorámos isso!
Descobrir o quão profunda é a depravação de Cortland foi um choque, sem dúvida. O alcance total da profecia torna-se claro no episódio final, quando Rowan encontra a frase “A 13ª bruxa é uma porta”. Entretanto o mundo de Rowan acaba de mudar significativamente. Agora ela é mãe de uma entidade criança/Lasher?! O que pode adiantar sobre a segunda temporada?
É só ficarem atentos. A jornada de Lasher sobre quem ele é agora torna-se muito central na segunda temporada. O que sempre esteve nos limites da primeira temporada foi: o que é que Lasher está realmente a tentar fazer aqui? O que é que isto quer realmente dizer? Será que se trata de dar poder às bruxas e de dar poder a seres que o merecem? Ou será que há uma agenda oculta que ele tem estado a encobrir com todas estas coisas? Isto remonta ao início, quando estávamos a tentar perceber o que é exatamente esta criatura. Ser um não-humano desencarnado e querer e precisar de se tornar humano para poder participar na vida humana é, na verdade, o que se está a passar por baixo. Portanto, esta é uma forma de ele vir literalmente ao mundo como um humano e depois operar com Rowan a este nível.
Agora, na segunda temporada, ele nasceu, está num corpo humano, mas não sabe exatamente o que é agora. Essa é uma das viagens da segunda temporada. Rowan, como sua mãe, também tem a tarefa de se perguntar: o que é que eu dei à luz? O que é que eu trouxe ao mundo? O que, claro, é uma metáfora – uma vez que se é poderoso, como é que o usamos e o que é que trazemos para o mundo? E como se trata de uma história, é muito complexa, sombria, distorcida e, esperemos, muito interessante!