Entrevista – Inês Folque

Iniciou a sua carreira na televisão como atriz na 7ª temporada de Morangos com Açúcar, onde dava vida à vilã Rita. Desde então, já deu vida a outras personagens, mas também experimentou outras áreas da televisão assumindo a condução do programa Factor K. Confessa que a maior paixão é comunicar e tem o desejo de um dia puder pisar o palco através de um musical. O Quinto Canal esteve à conversa com Inês Folque e mostra-lhe agora um pouco da sua vida.

Quem é a Inês Folque?

A Inês Folque é uma miúda igual às outras, cheia de sonhos e objectivos, uma miúda que todos os dias luta para chegar onde se propôs, uma miúda que chora, que ri, sensível, teimosa, amiga dos seus amigos, que adora comunicar e viajar. É relativo, tudo o que possa escrever para descrever a Inês Folque, é difícil ter suficiente perspectiva para nos descrevermos com rigor.

Desde que me lembro de ser gente que dizia à minha mãe que queria ser atriz.

Quando surgiu o interesse pela representação?

Desde que me lembro de ser gente que dizia à minha mãe que queria ser atriz… devia ter uns 6 ou 7 anos. A minha mãe conta-me sempre uma história; era eu muito pequenina, quando um dia antes de ir dormir desato a chorar e a minha mãe muito preocupada pergunta-me o que se passa, eu, pequenina e inocente, entre lágrimas digo-lhe que não sei como vou fazer para “tratar dos negócios do pai” e ser atriz! Ainda hoje nos rimos com esse meu sentimento de responsabilidade numa idade tão precoce.
Como era muito extrovertida e tinha energia para dar e vender a minha professora encontrou nos teatros da escola, que aconteciam de manhã semanalmente, a forma perfeita para gastar essas energias que eu tinha a mais, acho que foi aí que lhe ganhei o gosto… era uma sensação espectacular, que nunca mais esqueci.

Depois de seguir um percurso de forma natural no colégio e de tirar um curso de Gestão na Universidade Nova de Lisboa, uma opção consciente para me permitir ter o famoso “plano b”, decido que está na hora de dedicar-me de corpo e alma à representação e mais tarde apresentação. A partir daí têm sido 7 anos de muita luta, 7 anos de muitas alegrias e de muito esforço, 7 anos a querer provar que mereço crescer neste meio, que quero crescer… que quero fazer mais e melhor.

Estreou-se na televisão através da série Morangos com Açúcar. Como se sentiu ao dar vida a uma vilã?

Pois é… o meu projecto Rita Moreira! Foi um grande desafio, foi o meu primeiro trabalho a nível profissional enquanto actriz e apesar de ter feito alguns workshops e 2 cursos de Verão nos Estados Unidos, a minha entrada para os Morangos com Açúcar foi, no mínimo, assustadora. Abraçar uma vilã num primeiro trabalho pode ser muito gratificante, mas também é assustador. Eu nunca tinha feito televisão e além disso trabalhava para um público infantil, que acreditava que eu era mesmo a Rita Moreira, capaz de fazer todas aquelas maldades e sem escrúpulos. Demorei a aceitar a minha personagem, um dos maiores erros que um actor pode cometer, pois uma personagem nunca deve ser julgada, mas acho que aí a falta de experiência e alguma imaturidade fizeram com que demorasse mais tempo a entrar na personagem. Era muito difícil, para mim, aceitar que ela fizesse tudo mal, sentir o ódio que lhe tinham, sobretudo o público infantil, que tinha imensa dificuldade em separar a ficção da realidade, mas fui muito bem acompanhada por uma equipa espectacular de direcção de actores que me ajudou não só a compreender a Rita, como a crescer com ela enquanto actriz, e no fim acabei rendida à minha personagem. Uma grande ajuda para mim foi também trabalhar com o Diogo Lopes, que fazia a personagem Bruno Bacelar, par romântico com a Rita, o Diogo é de uma generosidade inesgotável, apoiámo-nos muito um no outro, e sei que para mim os Morangos com Açúcar e esta primeira personagem foram sem dúvida uma grande escola. O melhor da Rita, e que só mais tarde percebi, foi enquanto atriz, ter tido a possibilidade de encarnar uma personagem tão distante de mim, a verdade é que não via nada de mim na Rita e isso para um ator é muito valioso.

Inês Folque MCA

Abraçar uma vilã num primeiro trabalho pode ser muito gratificante, mas também é assustador.

O público mais jovem, para quem a série era maioritariamente dirigida, conseguia distanciar a Inês Folque (atriz) da Rita Moreira (personagem)?

É difícil para o público, no geral, separar uma personagem da pessoa que lhe dá vida, mais ainda para um público infantil, que vive intensamente estas histórias e que acredita na vida das personagens como se fossem pessoas reais. Foi muito difícil para mim lidar com essa parte, pois as pessoas, os jovens, as crianças no geral olhavam para mim de lado, algumas até com medo. Dei por mim a reagir de uma forma muito exagerada, a sentir a necessidade de estar sempre com um sorriso na cara e ser de uma simpatia extrema com o mundo. Eu sou uma pessoa bem-disposta no geral e gosto estar com um sorriso na cara, mas realmente no período dos Morangos parece que queria provar ao mundo que a Rita não era a Inês e que podiam aproximar-se de mim, gostar de mim. No fundo, não queria que o público me odiasse, não estava preparada na altura para isso, lembro-me de estar com algumas amigas minhas da série em sítios públicos, e os miúdos aproximarem-se delas todos contentes, pedirem autógrafos e a reacção que tinham quando me viam era de medo, não se aproximavam, não me abordavam, alguns olhavam e comentavam mas nem se aproximavam… Se eu não fizesse a aproximação eles também não faziam.

Na temporada da qual fez parte saíram vários atores que hoje têm carreiras bastante consolidadas no mundo da televisão, como é o caso de Sara Matos e Lourenço Ortigão. Os Morangos com Açúcar foram mesmo uma escola de talentos?

Os Morangos com Açúcar podem ser comparados à New Wave, novela brasileira da Globo que lançou milhares de actores não só da minha geração como das seguintes no Brasil. Quando a TVI avança com os primeiros Morangos havia muito pouca ficção em Portugal, havia também muito menos actores e sobretudo menos actores a fazer televisão. As novelas eram importadas da Globo e as poucas que se faziam eram com muito poucos recursos. Acho que os Morangos com Açúcar vieram trazer uma nova era na ficção nacional, foram sem dúvida uma escola “prática” para milhares de actores, mas nós não somos o Brasil, o mercado é mais pequeno e chegou também uma altura que infelizmente por muito talento que algumas pessoas que saíram dos Morangos tivessem, o mercado já estava tão saturado que não tem havido oportunidade no panorama da ficção, hoje em dia quando somos contratados não temos garantias de nada, em relação a algumas das carreiras que vingaram depois dos Morangos, há sempre muitos factores que influenciam isso, e os Morangos são apenas uma etapa da carreira enquanto actor, acho que no fim o que conta é mesmo o talento, o trabalho, a persistência e o esforço, e claro, o eterno factor sorte, associado a todos os que trabalham nesta área.

Depois da série juvenil embarcou numa outra vertente televisiva: a apresentação. Este também era um sonho que tinha por realizar ou foi algo que surgiu por mero acaso?

A minha maior paixão é comunicar: a forma, o sítio, o público, pouco importam. Desde pequenina que as minhas amigas e família gozam comigo porque dizem que não me calo e, sem dúvida, que onde e quando me sinto bem é a comunicar, por isso a apresentação sempre esteve nos meus planos. Em Portugal existe muito preconceito sobre “ser ator” ou ser “apresentador”. Há uma enorme dificuldade em provar que somos capazes de estar nas duas áreas e somos capazes de o fazer com o mesmo empenho e profissionalismo. Há uma enorme tendência a catalogar as pessoas e as suas profissões. Quando o fim dos Morangos se estava a aproximar, uma conversa inesperada com Pedro Boucherie Mendes, director de canais temáticos da SIC, e outra de seguida com Catarina Gil, directora da SIC K, pôs-me no caminho da aventura que é a apresentação, desde esse dia apaixonei-me ainda mais por comunicar e fiquei rendida à apresentação. Foi literalmente procurar o que se costuma chamar “hora certa no sítio certo”, já tinha essa vontade na cabeça e quando o momento surgiu fui atrás dele.

Inês Folque Factor K

A minha maior paixão é comunicar: a forma, o sítio, o público, pouco importam.

Sendo o Factor K um magazine cultural, sente que as crianças têm hoje um maior acesso a tudo aquilo que os rodeia? É abordada pelo público nesse sentido?

Sem dúvida que têm. Com as novas tecnologias e num mundo cada vez mais global os mais novos são os que acabam por beneficiar e estar a par de tudo o que se passa em primeira mão, às vezes para o bem, outras para o mal. O Factor K é um Magazine Cultural adaptado às novas gerações, pois nele tentamos abordar todos os temas de interesse ao público infanto-juvenil de forma original e divertida, o protagonista é a criança ou o adolescente que nos está a ver, sendo que o nosso objectivo é passar a informação aos seus pais, tentando que através do nosso programa os mais novos tomem iniciativas para desafiar os pais em programas didácticos e culturais, fazendo com que todos ganhem.

Qual é a imagem de marca do Factor K?

O Factor K não tem propriamente uma imagem de marca, é um programa maduro. Já tem 4 anos, 3,5 dos quais  comigo à frente, e o seu principal objectivo é ir acompanhando as novas gerações, estar sempre em cima do que os mais novos gostam e sobretudo defender a velha máxima “aprender a brincar”. Queremos trazer sempre ideias inovadoras, alternativas de projectos ou ideias de programas para o público infanto-juvenil fazer nos tempos livres e em tudo o que pudermos ajudar os pais no crescimento dos seus filhos.

Para além de se ter dedicado à apresentação, entrou recentemente no elenco da sequela de Jardins Proibidos, na TVI. Como surgiu essa oportunidade?

Surgiu de forma natural, através da Glam, a minha agência, que é quem gere os meus projectos. Desafiaram-me para dar vida à Mercedes e desde logo percebi que era uma personagem irrecusável, além de que já tinha muitas saudades de estar no registo da representação, foi uma oportunidade espectacular que me surgiu e que me deu muito gozo ter disponibilidade para aceitar.

A personagem que desempenhou na novela era uma espanhola. Como se preparou para este papel?

Para descobrir a Mercedes fui buscar as minhas raízes e tradições espanholas. Nasci em Barcelona, a minha mãe é espanhola, os meus tios e avós também e toda a minha vida convivi com essa cultura, viajando todos os anos entre Lisboa e Barcelona. Logo descobrir a Mercedes nas minhas raízes não foi difícil, além disso há uma curiosidade com alguma piada, o facto da minha irmã mais nova e da minha mãe se chamarem Mercedes. Tentei observar a postura das minhas amigas espanholas, da minha mãe, a forma como gesticulam, como falam, nós espanhóis falamos imenso com as mãos. Isso era também importante. Uma grande base do que era a Mercedes já estava em mim, na minha costela espanhola, o resto é como qualquer trabalho de actor, observação, enquadramento cultural, a história da personagem. As espanholas arranjam-se mais no geral, cuidam muito dos detalhes na aparência (nós cá em Portugal somos mais tranquilas), ter essa preocupação também na postura, tentar transmitir isso não só através do trabalho feito no guarda-roupa como na linguagem corporal.

Mercedes veio, no entanto, a desaparecer de cena depois de ter sido assassinada. Que balanço faz da sua participação?

Acho que a minha participação correu bem, pelo menos é assim que quero pensar. A novela seguiu uma história e a Mercedes foi apanhada nesse enredo de mortes sucessivas que o autor escolheu, é claro que nenhum ator gosta de ver a sua personagem morrer, por todos os motivos, mas nós emprestamos o nosso corpo às personagens, e estamos um bocadinho “na mão” de quem nos dá vida, dos autores, dos próprios espectadores. Imaginei muitas coisas para a Mercedes, tinha muita tinta para usar com a Mercedes, deu-me imenso gozo fazer esta personagem, porque não só não era óbvia, como era pura, inesperadamente real, podia ser qualquer miúda a tentar recuperar um amor adolescente e arrebatador, só que ela não tinha escrúpulos para o reconquistar, mas a Mercedes acaba por dar uma grande lição a todos, revela-se muito mais sensível do que as pessoas achavam.

Inês Folque Jardins Proibidos

… tinha muita tinta para usar com a Mercedes, deu-me imenso gozo fazer esta personagem, porque não só não era óbvia, como era pura, inesperadamente real…

Há algum projeto de ficção em vista para os próximos tempos? O que gostava de experimentar agora?

Está muita coisa a acontecer, muitos projetos a começar, vamos aguardar, quem sabe se algumas coisas não estão já em cima da mesa. Gosto do meu trabalho e sobretudo gosto de trabalhar, de apresentar, de representar, não quero ter a preocupação do que estarei ou não a fazer “a seguir” por isso o que vier será sempre bem-vindo, desde que, estudado com a minha agência, seja um bom projeto para a carreira que quero delinear. Sei que há dois projetos que tenho na cabeça e adorava um dia poder cumprir; fazer cinema e fazer teatro, de preferência teatro musical, quem sabe este não é o ano… pelo menos pretendo continuar a lutar para ver esses dois sonhos concretizados um dia.

Como vê a aposta dos três canais generalistas na ficção?

É bom ver que a ficção está a crescer, que dão mais oportunidade aos atores, que este crescimento também está a traduzir-se em melhor qualidade, e que sobretudo esta concorrência torna os produtos melhores. A guerra das audiências acaba por obrigar a procurar a melhor forma de captar o espectador, estou por isso muito contente, acho que estamos no bom caminho.

Acompanhou a estreia de A Única Mulher? É um projeto no qual gostaria de participar?

Acompanhei sim, tinha muito interesse em ver, gosto imenso de ver séries e novelas quando estreiam, depois nem sempre tenho tempo para acompanhar todas, mas pelo menos ver os primeiros episódios e ter uma opinião formada sobre as mesmas acho que é sempre bom, além disso é uma novela com umas paisagens tão incríveis que nos dá logo vontade de apanhar um avião e fugir para África.

Numa altura em que vários colegas se renderam a programas como o Dança com as Estrelas, gostaria de participar na versão portuguesa de Dolphins With The Stars?

O trabalho de ator passa por sugar toda a informação que nos for possível, nenhum conhecimento é demais, nenhuma arte deve ser descorada, nenhum meio, nenhum assunto deve ser irrelevante ou indiferente, pois todos podem ser um dia parte importante na preparação de uma personagem. Eu acho que programas como o Dança com as Estrelas servem exactamente para isso, para acrescentar bagagem à mochila do ator, para aperfeiçoar e aprender novas formas de expressão, novas artes, para nos superarmos, para sairmos da nossa zona de conforto, e, enquanto atores, sair da zona de conforto torna-se essencial. Vem aí a versão portuguesa do Dolphins With The Stars e sem dúvida alguma que adoraria fazer parte, por todos os motivos que mencionei em cima, além de que adoro golfinhos e sei que seria uma experiência para a vida.

ines folque

O trabalho de ator passa por sugar toda a informação que nos for possível, nenhum conhecimento é demais, nenhuma arte deve ser descorada…

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