Diamantina: «Estou disponível para fazer aquilo de que mais gosto, em qualquer canal»
O seu sorriso contagia todos os que estão à sua volta e são poucos os que não se surpreendem com o seu dom de palavra. Diamantina Rodrigues nasceu não só com o fado no sangue, mas igualmente com uma enorme vontade de comunicar. Passámos a conhecê-la no Portugal sem Fronteiras, programa da RTP1, no entanto, sem que nada o fizesse prever, o seu futuro em televisão mudou.
Sem projetos no primeiro canal, e depois de uma reformulação nos recursos humanos do mesmo, Diamantina ficou de fora da nova grelha de programação da estação pública.
Nesta entrevista, vai ficar a conhecê-la um pouco melhor, assim como aos seus objetivos profissionais. Tudo, com a assinatura do 5º Canal!
I
Quem é a Diamantina Rodrigues?
Neste momento é essencialmente mãe… também é fadista… até há muito pouco tempo apresentou programas de televisão na RTP e, em tempos, foi Professora de Matemática e Ciências da Natureza.
Alguma vez, enquanto dava aulas, pensou em seguir o mundo da televisão ou essa ideia surgiu naturalmente com o casting da RTP?
A televisão era algo de que sempre gostei muito, desde criança… quando comecei a ter maior consciência das coisas começou a crescer a curiosidade de saber como é que tudo aquilo se faria até chegar ali às nossas televisões. Conforme fui matando essa curiosidade, ao ter a oportunidade de participar em alguns programas, enquanto cantora, fui-me interessando ainda mais pelo meio. No entanto, a vida nem sempre nos leva pelos caminhos que gostaríamos e esse sonho foi-se desvanecendo. Só quando vi na televisão o anúncio ao casting da RTP é que voltou a acender-se em mim aquela vontade antiga, por encontrar ali, A TAL oportunidade de seguir o sonho que tinha deixado para trás.
No meio de mais de quatro mil candidatas, chegou a pensar que tinha hipóteses em ser uma das dez caras selecionadas pela estação pública?
Quando concorremos ao que quer que seja, temos sempre nem que seja a ínfima esperança de que nos calhe a nós (tem que calhar a alguém!!), caso contrário nem concorreríamos No meu caso, era mesmo uma esperança mínima uma vez que já tinha quase 30 anos, o meu curso nada tinha que ver com a área da comunicação e nunca tinha tido qualquer experiência (pensei que seriam critérios que considerariam prioritários).
Como reagiu quando soube que tinha sido uma das escolhidas?
Nem me lembro bem… demoraram algum tempo até comunicar os seleccionados e confesso que praticamente já nem me lembrava do casting. Tinha sido uma experiência que tinha passado e pronto… acho que fiquei muito, muito feliz interiormente mas na altura nem fui capaz de exteriorizar convenientemente. Eu também fui sempre muito pés na terra e a verdade, é que ninguém me estava a comunicar que tinha um programa na televisão, apenas que tinha sido seleccionada… era já um grande passo, mas, não era a garantia de nada.
O que é que a fascina nos ecrãs nacionais?
O meu fascínio pela televisão não se prende apenas com os ecrãs nacionais… gosto de televisão. Ponto. Desde que sejam programas que me chamem a atenção pelo seu conteúdo ou criatividade, gosto de ver.
II
Portugal sem Fronteiras estreou a 26 de outubro de 2008. Já tinha privado com Carlos Alberto Moniz ou os dois conheceram-se dias antes do início deste projeto?
Foi exactamente isso, pessoalmente, conhecemo-nos pouco tempo antes do início do projecto. Claro que eu já conhecia o Carlos Alberto por toda a sua carreira anterior na música.
Como se cria uma dupla de entretenimento que cative a atenção dos telespetadores na televisão nacional?
Penso que não “se cria”… vai crescendo de uma determinada forma conforme os dois elementos se vão conhecendo e compreendendo um ao outro (uma vez que não há um conhecimento anterior). No meu caso, a minha fórmula foi sempre muito simples, ser eu própria para que nunca corresse o risco de “desmanchar o boneco”. Ninguém consegue manter uma mentira toda a vida.
No que é que Portugal sem Fronteiras se destacava em relação aos outros programas do mesmo género?
Este programa foi concebido a pensar essencialmente nas comunidades portuguesas espalhadas pelo Mundo, e muito do conteúdo era elaborado a pensar nisso. Penso que era o que mais marcava a diferença. Depois era também o facto de eu e o Carlos termos em comum as carreiras na música e tocarmos instrumentos. Volta e meia lá saía uma música ao vivo, ali em directo e “sem rede”.
Alguma vez chegou a sentir falta de um estúdio próprio para o seu programa?
Estúdio próprio nenhum programa tem propriamente, os mesmos estúdios são utilizados para vários programas, alterando-se sempre que necessário o cenário. No primeiro ano, que foi considerado experimental, não tivemos um cenário completo para o nosso programa, eram apenas pequenos detalhes que se colocavam no cenário original do Portugal no Coração. Mas o programa ganhou o seu espaço e a dada altura tivemos um cenário próprio.
III
Em conversa com a revista VIP no ano de 2011 disse que a RTP estava a apostar em si: «Tem sido ótimo porque a direção de programas da RTP felizmente tem apostado em mim, não só para o programa que eu faço todos os sábados, Portugal sem Fronteiras, mas também para outros programas que vão aparecendo esporadicamente. A RTP tem-me deixado experimentar outras coisas. Está a ser realmente um pequeno sonho ainda».
Sentia, na altura, que tinha oportunidade de crescer na antena do primeiro canal?
Sim. Para além do programa que fazia regularmente, era frequentemente chamada para apresentar programas especiais, o que obviamente significa que a estação confia o suficiente no nosso trabalho para nos tirar da nossa zona de conforto e nos colocar à frente de formatos e desafios novos.
Alguma vez chegou a ter a possibilidade de assinar com o canal ou a sua relação com a RTP sempre foi baseada na chamada «prestação de serviços»?
Nunca houve qualquer conversa no sentido de um contrato. Comecei em regime de prestação de serviços e assim fui continuando ao longo de todo o tempo em que trabalhei na RTP.
Como lhe comunicaram o final de Portugal sem Fronteiras?
Foi a produção do programa que me comunicou que o programa iria parar no dia 2 de Junho, uma vez que iriam inserir na grelha aos fins de Semana os programas dedicados às 7 Maravilhas. Na altura não me deram a certeza se seria para voltar em Setembro ou não.
Estava à espera de tal desfecho?
Eu sabia que um dia o programa teria de terminar. Criamos uma rotina na nossa vida à volta daquele trabalho e depois, ninguém está propriamente preparado para ver o seu fim.
Recordo-me que nos primórdios do programa os resultados alcançados eram positivos. Chegou a receber alguma palavra de apoio por esses valores por parte da direção de programas?
Os resultados foram sempre bastante positivos. Claro que a direcção de programas não pode andar constantemente atrás dos apresentadores a dizer-lhes que estão a ir muito bem… são muitos!! Mas o facto de o programa ter começado por ser apenas experimental e ter durado mais de três anos e meio acabava por revelar que não haveria grandes descontentamentos por parte de quem de direito.
Durante o seu percurso na estação pública sentiu a pressão das audiências que tantas vezes se diz não ser considerada?
Honestamente não era algo em que pensasse muito. Gostava demasiado daquilo que fazia para essa ser a minha principal preocupação. Claro que ficava contente e mais motivada para continuar quando verificava que os resultados eram bons, mas não adianta pensar muito nisso, quando temos consciência de que estamos a dar o melhor de nós.
IV
Os telespetadores sentem a sua falta nos ecrãs nacionais? O que lhe dizem?
Recebo muitas mensagens no facebook e abordam-me bastante na rua, normalmente a perguntar quando vou voltar. Mas, infelizmente, não tenho grande resposta para lhes dar.
Se recebesse uma proposta de outro canal, aceitaria?
Obviamente que se me surgisse uma nova oportunidade na RTP seria a situação ideal. Foi a estação onde cresci e aprendi muitas coisas, e onde efectivamente me deram a oportunidade de ter esta experiência , mas claro que, não acontecendo, estou disponível para fazer aquilo de que mais gosto, em qualquer outro canal.
O que gostaria de fazer futuramente em televisão?
Eu gosto essencialmente de televisão, e considero que nenhum trabalho ou programa é menor desde que bem feito e bem pensado. Todos os programas têm o seu público e por isso têm a sua importância. Aceitaria, qualquer desafio, nesse sentido.
Qual o programa que atualmente é transmitido nas generalistas com o qual mais se identifica? E aquele que, para si, seria um autêntico desafio para o conduzir?
Muito sinceramente tenho visto muito pouca televisão (qualquer mãe recente entenderá o que quero dizer), mas identifico-me muito com o Não me sai da cabeça conduzido neste momento pela Sílvia Alberto na RTP1.
Acha que a RTP está a cumprir a prestação de um serviço público nos ecrãs nacionais?
Não tenho dúvidas de que essa é sempre uma preocupação do canal em todos os programas que coloca no ar… O que acho é que a noção que cada um tem de serviço público é que é diferente e por isso, existirão sempre as “reclamações” habituais.
V
Costuma seguir os blogs e sites dedicados ao mundo da televisão, séries e cinema? Se sim, quais?
Confesso que não sou muito dada à Internet em geral, não convivo muito tempo com ela e não ando à procura de novidades. Uso-a simplesmente como instrumento de trabalho, em situações específicas. Costumo usar, para mim própria, aquele adjectivo, que não existe, mas que se criou para pessoas como eu: “info-excluída”… sempre que tenho um bocadinho de tempo, ainda continuo a preferir pegar no comando da televisão e procurar algo que me interesse, ou pegar num livro…
Que papel acha que podem estes ter na divulgação das últimas sobre os ecrãs nacionais e internacionais?
Cada vez mais a Internet é o futuro, e um dia, talvez até já nem exista televisão!!! Sei que faço parte de uma minoria que continua a manter-se informada apenas pelos canais televisivos ou pelas “velhinhas” versões em papel por isso, não tenho dúvidas de que, desde que bem feitos, com honestidade, competência e rigor podem ser um excelente veículo de informação e de partilha, uma vez que permitem também, em muitos casos, uma interacção que não é possível nos meios mais tradicionais.
Uma mensagem para os leitores do 5º Canal…
Queria apenas deixar um grande beijinho, com muitas saudades do pequeno ecrã… gostava de em breve voltar a ver-vos lá do outro lado. Quem sabe? 😉
Obrigado pela disponibilidade Diamantina!