Opinião: «Game of Thrones» – a luta entre quem quer contar a história

HBO

Um dia depois de o episódio final da quinta temporada ter sido exibido em Portugal, e de o mundo inteiro já o ter visto, é a altura perfeita para debater os principais assuntos sobre Game of Thrones. Excluindo todas as teorias que existem sobre os segredos dos livros, o mais importante, e que foi realçado nesta temporada, é quem é que afinal está a contar a história.

Confesso que não li nenhum dos livros. Tornei-me fã da série e a minha curiosidade sempre me levou a investigar a história, apesar de nunca ter lido nenhuma linha dos livros. Muito antes de a história na série evoluir já eu sabia de metade das coisas e o meu interesse foi perceber como os produtores iriam dar vida a determinadas situações. É importante realçar que grande parte dos fãs da saga literária evitaram contar eventos dos livros aos fãs da série. Os seus fóruns tinham vários avisos explícitos de spoilers e vi sempre alguma superioridade em quem já sabia o que iria acontecer.

Mas as últimas temporadas foram-se afastando a pequenos passos daquela história já contada. E os fãs das obras literárias começaram a fazer-se ouvir e de facto muitas das diferenças começaram a ter um impacto importante no desenrolar dos acontecimentos. A quinta temporada de Game of Thrones serviu de game-changing e os produtores da série são agora os principais “autores” da história (até porque George R. R. Martin ainda não acabou de escrever os livros). Apesar de Martin ter partilhado com eles segredos e ideias futuras para o que falta contar, eles são agora quem decide o destino daquelas personagens.

O site IGN elaborou uma lista com as principais diferenças entre o episódio Mother’s Mercy e os livros A Feast for Crows e A Dance with Dragons (quarto e quinto na saga). Para evitar spoilers (tanto da série como dos livros), destaco apenas algumas diferenças que merecem a vossa consideração:

– Nos livros, tanto Lady Selyse e Shireen (mulher e filha de Stannis Baratheon) estão vivas a viver em Castle Black;
– Myrcella Baratheon e Trystane Martell não saíram de Dorne, pelo que a cena do navio é criação da série;
– Theon consegue fugir de Winterfell mas não daquela maneira e sem a presença de Myranda, uma personagem criada pela série;
– Nos livros, Brienne of Tarth não se encontra perto de Winterfell, o que significa que a cena entre ela e Stannis foi criada pela série.

Apesar de estas diferenças parecerem mínimas, mudam imenso o rumo não só das personagens afetadas como o das que os rodeiam. Acredito que é impossível fazer uma adaptação fiel das obras literárias e que há sempre situações e acontecimentos que resultam melhor em televisão e cinema do que numa folha de papel, e vice-versa. E é mais que óbvio que estas diferenças tiraram poder aos fãs dos livros, colocando todos em pé de igualdade. Mas não deixa de ser curioso perceber quem afinal está a contar a história. Martin já expressou publicamente que não teve a responsabilidade dos últimos acontecimentos na série, o que demonstra que agora está tudo nas mãos dos produtores televisivos. Existem cenas e histórias importantes nos livros que incrementam a mística de Game of Thrones e que foram até agora nulas na série.

A verdadeira questão (e a que está a deixar-me reticente para o futuro) é até que ponto estas diferenças não estão a tornar Game of Thrones num produto de entretenimento sensacionalista, com cenas, personagens e finais inventados que agradem a todos?

Inês Calhias

Licenciada em Ciências da Comunicação pela Escola Superior de Educação e Comunicação da Universidade do Algarve, desde cedo adquiri um enorme interesse por séries. Tento ver um pouco de tudo e apresentar aqui no Quinto Canal o que se passa no panorama televisivo.

Deixe um Comentário

O seu endereço de email não será publicado. Campos obrigatórios marcados com *