Um dos maiores nomes da gastronomia de Portugal, o chef José Avillez, tem entre as suas marcas a curiosidade, o gosto pelas viagens e a vontade incessante de experimentar e aprender coisas sobre diferentes culturas.

Isto tudo sem nunca deixar de lado a tradição culinária de Portugal, a sua grande fonte de inspiração. Avillez volta a ser um dos mestres na segunda temporada do programa Mestre do Sabor, que tem estreia marcada para o dia 03 de maio, às 18h40, na Globo. A pandemia de Covid-19 fez com o chef apenas conseguisse participar na primeira metade do programa, uma vez que se viu forçado a regressar a Portugal. Mas espera conseguir participar na final.

Leia de seguida uma entrevista exclusiva a José Avillez, gentilmente cedida pelo canal Globo.


O que fez com que tivesse de interromper as gravações da segunda temporada de Mestre do Sabor?

Essa segunda temporada estava a ser maravilhosa para mim. Temos cozinheiros do mesmo nível da primeira temporada, o que é ótimo. Mas nos últimos dias de gravação tive que transmitir à Globo e à minha equipa que precisaria de me ausentar por algum tempo. Mas pretendo voltar para a grande final ao vivo. Não sei como estará tudo quando isso for ao ar, mas nesse momento estamos com uma pandemia por causa do COVID-19 e eu tenho muitas pessoas que trabalham comigo em Portugal. Decidi voltar porque acredito que neste momento tenho que estar perto delas. A Globo, muito atenciosa, concedeu-me esse espaço. E fico tranquilo também porque havia alguém a quem podia passar o bastão que é ainda muito melhor do que eu. O chef Rafa Costa e Silva, mestre que gosto e admiro muito, e que tenho certeza que cuidou muito bem de minha equipa.

Como foi essa conversa com a equipa?

Eles ficaram um pouco para baixo, até porque eu não dei a notícia completa, então eles não sabiam ainda que o Rafa Costa e Silva seria meu substituto. Mas, por outro lado, tivemos um bom desempenho no início do programa, o que os deixou felizes. Aprendi muito com estes maravilhosos cozinheiros brasileiros, com os ingredientes brasileiros. O Brasil é um lugar onde me sinto em casa. Foi uma decisão muito difícil para mim, mas acho que todo mundo vai compreender. E o Rafa abraça esse projeto com muita vontade.

Qual o sentimento fica de ter que deixar o programa?

Fiquei muito aliviado quando soube que teríamos o Rafael Costa e Silva para me substituir porque foi uma decisão muito difícil para mim. Passei algumas noites em claro porque queria deixar o meu lugar entregue em boas mãos. Só ia voltar para a Europa se encontrássemos a pessoa certa. E apareceu a pessoa certa, não poderia ser melhor. O Rafa Costa e Silva é formado nos EUA, tem experiência na Europa e tem um restaurante de cozinha brasileira contemporânea.

Tem alguma dica para o Rafael?

Posso dizer que a produção é maravilhosa e faz com que a gente se sinta em casa quando respeita nossas vontades e nossas preocupações. É muito bom contar com cozinheiros de todo canto do Brasil. Perceber o carinho e emoção vindo deles. Eu não imponho nada à minha equipa, pois são todos cozinheiros profissionais. Tento tirar o melhor de cada um deles, perceber quem anda melhor sozinho para deixá-lo sozinho e quem precisa e quer uma companhia. A qualidade dos pratos é subjetiva, assim como a prova do Claude e do Batista. Tem também a questão do tempo. Eles não estão habituados a cozinhar com tempo. Por isso, minha dica é que você se organize com a sua equipa com um tempo menor, para que não haja atraso ou que algo deixe de ser feito conforme o planeado. O tempo passa voando e é preciso uma disciplina. Mas é uma equipa muito boa, de grandes profissionais. São pessoas que têm um respeito enorme pela culinária brasileira. Uma das coisas que eu mais gosto de fazer na vida é cozinhar, esse é um programa de televisão, então é preciso se divertir. Estar para frente. Se divertir, respeitar uns aos outros, puxá-los sempre para cima. Eu não estou para ensinar a cozinhar, mas para dividir a experiência que já vivi.

Katia Barbosa, Leo Paixão Rafael Costa e Silva e José Avillez

Como está a expectativa para voltar para a final, ao vivo?

Espero muito estar presente! Construímos uma relação muito boa com toda a equipa, produção, mestres, apresentadores e candidatos. Criei esse apego com as pessoas, com os cozinheiros, que são muito corajosos – eu nunca entraria num programa desses para competir – e tudo isso é algo muito afetuoso. Eu gosto bastante deste sentimento de fazer parte do Mestre. Espero que na final o mundo já esteja mais tranquilo para celebrar essa festa da gastronomia brasileira e que eu possa estar com vocês.

Algo mudou na sua vida depois da primeira temporada de Mestre do Sabor?

Foi uma repercussão enorme. Nós, hoje, em Portugal, temos tantos brasileiros quanto portugueses nos nossos salões. Sinto que entrei em outras camadas sociais também e pessoas de todo o Brasil agora vão lá, não só de São Paulo e Rio de Janeiro como antes. Acabo sendo reconhecido na rua quando estou no Brasil. O rapaz na alfândega, no aeroporto, me conheceu, um rapaz na rua, que vendia biscoito de polvilho também. O público nos reconhece e é muito bom esse carinho, mas também nos traz mais responsabilidade, algo que acontece quando viramos pessoas públicas. As pessoas seguem nosso exemplo e nos apontam erros quando fazemos algo errado. Precisamos saber lidar com isso. Pensar, acima de tudo, que nós não mudamos. Somos a mesma pessoa. Isso é importante ter em mente para não nos deixarmos levar por uma falsa sensação de superioridade que pode vir com a fama. As pessoas confiam mais no que eu digo e isso me traz mais responsabilidade.

Quais critérios leva em consideração para apertar o botão na degustação às cegas?

Eu me agarro muito ao sabor, à escolha e uso dos ingredientes. São todos profissionais, mas estão expostos na primeira vez a um universo diferente do deles. A maior parte nunca participou de um programa de TV, nem teve 50 minutos apenas para cozinhar. Numa primeira escolha, temos que ter a capacidade de perceber quem sabe fazer melhor do que fez. Depois, temos que pensar em como melhorar. Eu que não sou brasileiro vejo muitos ingredientes e técnicas que não conheço. Por isso, muitas vezes, vejo que escolho pessoas que eu acho que posso aprender com elas. Além disso, eu gosto quando a pessoa pensa em quem vai comer o prato. Independente das técnicas. Alguém que não fez um conjunto de técnicas para ficar bonito, mas pensou que do outro lado tem uma pessoa que vai experimentar. Isso é muito importante, que é quando respeitamos o comensal. Cozinhar para alguém é cuidar de alguém.


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