À primeira vista a premissa desta produção da ABC pode não favorecer muito o seu visionamento. Num contexto generalista a história é sobre uma adolescente e o seu pai solteiro que se mudam da cidade para os subúrbios, que deixam para trás as rotinas citadinas para ganharem os vícios dos ricos.

Contudo, Suburgatory (Suburban + Purgatory) é muito mais que isto. Não se compara a nada que tenha sido feito anteriormente pois a vida luxuosa levada a cabo nos subúrbios ainda não tinha sido percecionada pelos olhos de uma rebelde adolescente, com uma atitude e convicções muito fortes.

George Altman (Jeremy Sisto) após descobrir preservativos escondidos no quarto da sua filha Tessa (Jane Levy), entra em pânico com as suas responsabilidades como pai e resolve mudar de residência, procurando mudar a sua vida e tentar se aproximar mais da sua filha.  Nesta nova fase, George vai encontrar um mundo como ele ainda não o conhecera: vícios e hábitos estranhos e sem dúvida uma vizinhança ainda mais estranha que se coloca nos assuntos uns dos outros. É esbanjada riqueza e exibi-la torna-se o mais importante de quem mora em Chatswin (localidade fictícia). Tessa nunca aceitou esta mudança e mostra-se relutante em ficar pois sente que não se encaixa no tipo de vida levada pelas raparigas da sua idade. O seu principal problema é fazer amizades pois os miúdos ricos olham para ela como a pobre e a deslocada. Apenas Lisa Shay (Allie Grant), que se sente também desenquadrada do sítio onde reside, se mostra interessada na nova habitante.

George, pelo contrário, rapidamente faz amizade com as donas de casa desesperadas de Chatwin. Simplista e trabalhador, as senhoras veem nele um homem fora do vulgar capaz de lhes dar atenção como os seus maridos não lhe dão. Sheila Shay (Ana Gasteyer) e Dallas Royce (Cheryl Hines) são quem mais procuram a atenção de Geroge. Sheila por ser curiosa e por querer transmitir os valores de Chatswin, em oposição total à sua filha Lisa. Por seu lado, Dallas procura apenas companhia e alguém que a possa ajudar a lidar com a sua filha Dalia (Carly Chaikin).

Feitas as apresentações, volto a realçar que tudo isto parece algo que quando visto se torna completamente diferente. Esta comédia é uma crítica enorme ao estilo de vida de quem tem mais posses e é através de Tessa que esses juízos de valores nos chegam. Ela que via a simplicidade das coisas, como em andar de metro e nos outros hábitos que tinha fica, perplexa com o estilo de vida levado. As dicas contra este esbanjar de dinheiro são suaves e vêem-se em pequenas nuances sem nunca perder a piada. As próprias personagens são muitas vezes caricaturas de estereotípicos que se tornam cada vez mais visíveis nestes contextos. Aliás, esta série tem tantas vezes um humor negro, utilizado principalmente pelas tais personagens estereotipadas que falei, que nos faz rir do início ao fim do episódio. Dallas é sem dúvida a estrela no que toca a este assunto. Com comentários por vezes ignorantes e ideias que não lembram a ninguém, tornou-se numa das pessoas mais acarinhadas pelos fãs da série. A sua filha Dalia é um retrato cómico das adolescentes ricas pois não tem nada na cabeça, nem inteligência sequer considerando a quantidade de calinadas que manda, e só se preocupa com o dinheiro e com o que pode comprar. Temos por outro lado Sheila que se torna quase ridícula pelos hábitos e costumes que tem, levando sempre a família atrás das suas ideias. Lisa é também bastante cómica e chega a parecer lunática a maior parte das vezes.

Suburgatory é sem dúvida uma comédia muito divertida, sem nunca descurar dos momentos mais calmos e dóceis em que George e Tessa se procuram aproximar e melhorar a sua relação pai-filha. Esta série mostra sem dúvida que nem sempre o dinheiro compra tudo e que as pessoas que temos a nossa volta é o que realmente importa.

Inês Calhias

Licenciada em Ciências da Comunicação pela Escola Superior de Educação e Comunicação da Universidade do Algarve, desde cedo adquiri um enorme interesse por séries. Tento ver um pouco de tudo e apresentar aqui no Quinto Canal o que se passa no panorama televisivo.

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