da vinci's demons

Chegou finalmente ao pequeno ecrã aquela que era uma das séries mais aguardadas pelos aficionados de História. Da Vinci’s Demons, a nova aposta do canal Starz, numa colaboração com a BBC Worldwide, tanto prometeu mas será que cumpriu?

Com o objetivo de retratar a história não contada de Leonardo Da Vinci, ou mesmo de a reinventar, esta produção situa-se historicamente na juventude do artista, em Florença. Da Vinci (Tom Riley) é um artista renascentista, na casa dos vinte, que procura ganhar algum prestígio no seio da cidade e também desvendar alguns dos «demónios» que o assombram, especialmente a identidade de sua mãe. Artista, inventor, amante, idealista e sonhador, Da Vinci começa não só a percecionar como será o futuro mas também a criá-lo. Com a ajuda de Nico (Niccolo Machiavelli – Eros Vlahos), do seu mentor Andrea Verrochio (Allan Corduner) e de Zoroaster (Gregg Chillin), Da Vinci pretende deixar a sua marca na guerra que se aproxima ao ajudar a família Medici, encabeçada por Lorenzo (Elliot Cowan), Giuliano (Tom Bateman) e Clarice Orsini (Lara Pulver), esposa de Lorenzo. Pelo meio, Da Vinci fica enfeitiçado por Lucrezia Donati (Laura Haddock), amante de Lorenzo, envolvendo-se amorosamente com ela. Do outro lado da guerra, está o Papa Sixtus IV (ou Sisto IV – James Faulkner), que conta com a ajuda do seu sobrinho Girolamo Riario (Blake Ritson). A ação da série inicia quando uma personagem misteriosa conhecida como O Turco (Al-Rahim  – Alexander Siddig), procurado pelo Papa por estar associado ao culto Sons of Mithras, planeia encontrar Da Vinci para o aconselhar.

A história é o ponto forte desta série e sinceramente está a ser muito mal aproveitada. Já existe uma quantidade considerável de adaptações da história de Leonardo Da Vinci e esta é sem dúvida a que menos me cativa. Existem algumas lacunas no que toca ao contexto histórico, como em muitas outras produções do género, entre as quais destaco imediatamente a relação entre o artista com Machiavelli, que historicamente aconteceu muitos anos depois. Mas isso poderia ser minimizado caso existisse um outro peso forte na balança. Contudo, isso não existe. A história está a ser tratada como um guia apenas e não com a importância toda que tem. Isto também se verifica no tratamento das personagens, introduzidas sem qualquer tipo de apresentação própria, supondo que o espectador conseguirá saber quem são sem que este detenha o conhecimento para tal. Só me consegui aperceber qual era o Papa depois de alguma pesquisa e que Nico, o ajudante de Da Vinci, era na verdade outra figura histórica importante.

O elenco não me parece promissor, apesar de ser ainda cedo para tirar já estas conclusões. As prestações são um pouco forçadas, não há uma linha coerente de atuações e os diálogos não surgem fluentemente. O próprio protagonista parece que força demasiado toda a excentricidade de Da Vinci. A única personagem que me cativou, talvez por mostrar algum carisma e presença, foi Alexander Siddig, que ao interpretar tão brevemente O Turco, conquistou mais atenção que qualquer outra personagem.

O ponto fraco (e quando digo fraco estou a ser benevolente) da série são os efeitos visuais utilizados. Os cenários e algumas das experimentações de Da Vinci são um produto tão amador que me fazem questionar qual o orçamento da produção pois não conseguiu lidar com um dos aspetos mais importantes: a capacidade de reproduzir uma cidade que já não existe tal e qual como antigamente. Contudo, como nem tudo pode ser mau, são louváveis os efeitos utilizados para mostrar os desenhos mentais que o artista vai fazendo assim como a cena em que o mesmo analisa os movimentos de pássaros a voar (esta cena conteve aquele que é talvez um dos melhores efeitos que vi neste tipo de produções televisivas).

Penso que os fãs estavam à espera de algo do género de The Borgias (sem dúvida um exemplo que deveriam seguir) mas a verdade é que Da Vinci’s Demons fica muito aquém daquilo que prometeu. Resta esperar e ver se consegue melhorar ou sucumbir às suas falhas.
Para os curiosos, o canal Fox exibe esta série aos Domingos às 22h30.

Inês Calhias

Licenciada em Ciências da Comunicação pela Escola Superior de Educação e Comunicação da Universidade do Algarve, desde cedo adquiri um enorme interesse por séries. Tento ver um pouco de tudo e apresentar aqui no Quinto Canal o que se passa no panorama televisivo.

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