Só Séries: A misteriosa e sombria «Penny Dreadful»

Chegou finalmente ao pequeno ecrã a série de terror do canal Showtime que prometia muitos sustos e muita ação. Contudo, tanto prometeu que até agora não cumpriu completamente com estes parâmetros. Será por isso uma má série? Muito pelo contrário, Penny Dreadful é simplesmente brilhante.

Criada por John Logan para o canal Showtime, o nome desta série é inspirado nas baratas, sinistras e sensacionalistas publicações distribuídas na Grã-Bretanha no século XIX e tem inúmeras personagens literárias conhecidas do público. A história acompanha a saga de Sir Malcolm (Timothy Dalton), que procura desesperadamente pela sua filha. Ele conta com a ajuda da misteriosa Vanessa Ives (Eva Green), uma jovem sedutora que acredita num mundo sobrenatural, e de Ethan Chandler (Josh Hartnett), um americano que está à deriva em Londres e tem um dom exímio com armas de tiro. O grupo vai contar com a ajuda recorrente de Victor Frankenstein (Harry Treadaway), um cientista excêntrico e curioso sobre a vida e a morte, mas que vive assombrado pelo monstro que criou (Rory Kinnear), e ainda de Dorian Gray (Reeve Carney), um jovem rico, despreocupado e sedutor.

penny dreadful

A nível da história tenho que confessar que estou bastante interessada em todas as ramificações que está a ter. Até agora ainda não conhecemos bem a dimensão de todo o universo de Penny Dreadful e muitas surpresas ainda irão aparecer. Achei correto da parte dos roteiristas criar uma história base, na qual se conseguisse juntar as várias personagens do universo sem que a sua participação fosse totalmente desenquadrada. Desta forma, as personagens vão surgindo e desaparecendo de acordo com o tempo devido e sem que seja demasiado forçado saber logo todo o contexto sobre as mesmas. Este é outro ponto que também acho bastante interessante porque não sabemos logo o que se está a passar ao certo. Chandler é contratado para uma missão a qual ele também desconhece. Aos poucos vamos sabendo não só sobre os protagonistas mas também das suas histórias. E até agora a que mais me cativou foi a de Victor Frankenstein. Muitos fãs têm-se queixado do quão longo se tornam os diálogos e que a série é bastante monótona. Tenho que discordar totalmente porque até agora foram exibidos quatro episódios e a série está aos poucos a desenvolver-se, como era suposto. Em relação aos diálogos é uma das partes de Penny Dreadful que mais me cativa. Recheados de linguagem erudita e de conteúdo fascinante, é interessante assistir às conversas que ocorrem na série.

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Em relação ao elenco tenho que confessar que estava à espera de atuações do mais alto nível e no geral todas corresponderam às minhas expectativas. Apesar de alguns atores parecerem desconfortáveis e os seus diálogos menos fluentes, no geral o elenco carrega todo o misticismo e obscuridade da série e dá performances de outro mundo. Contudo, fico com a sensação de que toda a série está dependente do que a senhora Eva Green faz da sua personagem Vanessa Ives. É surpreendentemente macabra e assombrosa a sua atuação. Conhecendo outros trabalhos dela sei o quão à vontade está para interpretar personagens carismáticas com um lado sombrio. Mas esta Vanessa Ives está qualquer coisa de outro mundo. É o olhar, os diálogos e até mesmo a sua postura que dá um toque de requinte à série. Quem também faz uma excelente prestação é Treadaway com o seu mítico Dr. Frankenstein. Ele consegue interpretar uma personagem que carrega uma enorme escuridão e morbidez dentro de si a um nível bastante elevado. Faz o espectador ver além do cientista excêntrico que é e cria laços afetivos, conseguindo balancear na perfeição os seus dois lados.

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Outro aspeto de excelência da série está relacionado com a sua qualidade de imagem. Os ambientes criados para retratar uma Londres do século XIX estão simplesmente brilhantes e até mesmo a questão da chuva constante está presente. Todo o impacto do cenário é ajudado pela excelente iluminação, ou neste caso, falta dela, uma vez que os sítios onde muita da ação acontece são escuros, escondidos. A utilização de tons negros e de ambientes escuros tem ajudado imenso a manter a noção de terror que a série pretende ter. A equipa de produção recusou ao máximo utilizar efeitos computadorizados e até mesmo as criaturas apresentadas na série são fruto da criação de próteses e longas horas de maquilhagem. Contudo, a nível de cenas de terror que se estava à espera poucas têm aparecido. Não é nenhuma AHS, pois não tem cenas de grande impacto, nem Hannibal, em que o terror estético ultrapassa tudo o que já foi feito em televisão até agora. Mas a quantidade e qualidade de cenas ditas de terror que até agora surgiram estão perfeitamente encaixadas e sem o sentido de ser em demasia. Sendo do canal Showtime, obviamente que esta série não se iria prender por muitos tabus e as cenas de sexo estão também presentes, com um sentido estético muito elevado e em concordância com a história.

Penny Dreadful é uma produção sobre personagens sombrias, envolta num ambiente misterioso e obscuro. Apesar de não ser totalmente de terror, é capaz de nos provocar um frio na espinha. Resta esperar que os fãs não se tornem demasiado exigentes e deixem a história fluir a seu tempo, para que se possa apreciar toda a excelência desta produção. Sem dúvida, devia estar na vossa lista de séries a ver 😉

AVISO: Os vídeos contêm imagens que poderão ferir a suscetibilidade dos espetadores

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Inês Calhias

Licenciada em Ciências da Comunicação pela Escola Superior de Educação e Comunicação da Universidade do Algarve, desde cedo adquiri um enorme interesse por séries. Tento ver um pouco de tudo e apresentar aqui no Quinto Canal o que se passa no panorama televisivo.

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