Miguel Dias: «Tenho pena que a SIC se tenha esquecido de mim» – 7 Dias/7 Entrevistas
Miguel Dias, um homem do espetáculo que deixou a sua marca na televisão portuguesa. Depois de Pedro Boucherie Mendes é ele o grande entrevistado do 7 Dias, 7 Entrevistas. Fez parte de Floribella, um dos maiores sucessos de sempre e o futuro no terceiro canal previa-se risonho, no entanto, sem que nada o fizesse prever, acabou dispensado da SIC aquando da transmissão de Companhia das Manhãs.
Afastado da televisão, mas com projetos em teatro, garante querer voltar à «caixinha mágica». Sobre a Casa dos Segredos, diz ainda não ter sido contactado para guionista, tal como aconteceu na temporada passada.
Leia isto e muito mais na entrevista exclusiva de Miguel Dias ao 5º Canal!
I
Quem é o Miguel Dias?
O Miguel Dias é um sonhador que ama a sua profissão, seja a escrever, representar, cantar ou encenar. Considero-me uma pessoa transparente, com as emoções à flor da pele, com o princípio de vida: não me façam mal que eu não faço mal a ninguém.
Queria ser jornalista mas acabou por se entregar à música e aos palcos nacionais aos 16 anos. Hoje, considera que valeu a pena seguir a sua paixão?
Todos os dias acordo a pensar: eu tenho que mudar de vida, esta profissão dá cabo de mim. Nunca pertenci a lobbys, nunca tive cunhas. Lutei e tive sempre que mostrar as minhas capacidades para chegar onde cheguei. O que é certo é que não me imagino a fazer outra coisa e só assim sou feliz.
II
Antes de se iniciar na ficção nos ecrãs nacionais, deu a cara por formatos como o Paródia Nacional ou Furor. Que recordações guarda desses tempos?
O Paródia Nacional, principalmente, foi o grande culpado de me dar visibilidade junto do público. Foi um programa de sonho com uma equipa de sonho. No último dia foi impossível conter as lágrimas. Foi o primeiro programa em Portugal a bater uma novela brasileira que nessa altura era líder absoluta. Fiz centenas de personagens no Paródia e diverti-me mesmo muito. Foi também a primeira vez que dirigi cantores. Tenho muitas saudades deste formato.
Ficou com amigos para a vida?
Tenho ainda hoje uma ligação muito especial com toda a equipa que fez o Paródia Nacional. Passámos muitas horas juntos a trabalhar e isso criou laços inquebráveis. Foi também graças a esse programa que a minha amizade com a Teresa Guilherme se tornou forte e infinita. Sou mesmo muito amigo da Teresa e para além de ter aprendido bastante com ela, gosto muito dela pessoal e profissionalmente.
Quando participou em Floribella, para além de representar, emprestou a sua voz a alguns temas da banda sonora. Como foi viver com o sucesso da novela? Estava à espera?
A Floribella foi um marco importante no meu percurso. Foi uma novela onde para além de ator, fui responsável por toda a parte musical. Escrevi e produzi todos os discos da novela que venderam mais de 300.000 exemplares. É um trabalho que pouca gente sabe que fui eu que fiz.
Tem saudades desses tempos e do núcleo de atores com quem trabalhou?
A Floribella representou quase dois anos e meio da minha vida e de toda aquela equipa. Foi um fenómeno televisivo, uma verdadeira loucura. Divertimo-nos muito. Lembro-me da emoção que foi o musical da Floribella no Coliseu. Inesquecível.
Luciana Abreu era a protagonista. Como era a sua relação com ela e como vê, atualmente, a sua carreira?
Fui eu que fiz o casting à Luciana [Abreu] para o papel de Floribella e apercebi-me logo do talento nato que ela tem. A Teresa [Guilherme] e o Francisco Penim apostaram nela e ela deu vida àquela Flor como ninguém. Neste momento, creio que a carreira dela está um pouco à deriva, mas irá encontrar um caminho, de certeza.
A novela Vingança foi considerada por alguns críticos como um marco na ficção nacional tal como Vila Faia o fora em tempos. Qual a sua opinião sobre as produções que são realizadas hoje em dia?
A Vingança foi uma novela muito diferente das outras. Uma belíssima história, grande elenco, excelente banda sonora e uma realização e estética diferentes. Foi o primeiro papel de mau que fiz e aprendi muito com os grandes atores com quem trabalhei como o Nicolau Breyner e a Custódia Gallego. Acho que as novelas portuguesas precisam de arriscar mais em termos de história e de elencos. Há muita gente com talento e em casa sem trabalho.
Vários foram os projetos que integrou para fazer rir os portugueses. Um deles foi o Companhia das Manhãs, onde participava em rábulas bastante engraçadas. Como reagiu quando a SIC o dispensou após uma ligação de dez anos?
Em televisão, quando não temos contrato, temos que saber e estar preparados para sermos dispensados a qualquer momento. Não vou mentir e dizer que não foi um momento em que fiquei triste. Quase toda a minha carreira televisiva foi feita na SIC e não sei porquê, nunca mais fui chamado para trabalhos. Tenho pena, pois tenho consciência do trabalho que fiz e da maneira como vesti a camisola. Tenho pena que a SIC se tenha esquecido de mim.
Aquando da primeira edição de Peso Pesado ainda foi um dos comentadores residentes de Querida Júlia. Acha que a imagem e o peso contam muito na hora de escolher os atores para as produções?
Creio que a tirania da imagem tomou conta da televisão. Como se uma pessoa que é gorda não existisse na vida real. Continuo a querer acreditar que o talento está acima de uma carinha bonita, mas cada vez mais a realidade é essa.
Sem projeto atuais em televisão, gostava de regressar?
Tenho saudades de fazer televisão. Continuo à espera que se lembrem de mim. Se já fui útil e me foi reconhecido talento, creio que algo irá acontecer. Não perdi as minhas capacidades.
III
Recentemente encenou e produziu a peça O Fantasma da Revista. Para quando um regresso aos palcos?
Neste momento estou a produzir com uma colega minha, Ana Balbi, o meu primeiro musical infantil profissional escrito e encenado por mim. A Bela e o Monstro estreou hoje, na Academia de Santo Amaro. Vai estar em cena até dezembro, durante a semana para escolas e aos fins-de-semana para o público. Vai ser o meu regresso a palco no papel de monstro. Vão ao site www.belaemonstro.pt e descobrem tudo.
Trabalha em frente e atrás das câmaras. Qual dos dois trabalhos prefere: atuar ou encenar?
Sinceramente o que eu não gosto é de estar sem trabalho. Acho que nasci para isto e estar como encenador ou ator são coisas que me dão imenso prazer. Óbvio que o ator ainda é o meu eu que fala mais alto.
Foi guionista da segunda temporada da Casa dos Segredos. Vai voltar a assumir esse papel nesta nova série, que tem data de estreia para a rentrée televisiva?
Fui guionista da última serie da Casa dos Segredos numa parceria muito feliz com a Teresa Guilherme. Ainda ninguém falou comigo, por isso não sei de nada, mas claro que gostaria muito de voltar a escrever com a Teresa.
Uma mensagem para os leitores do 5º Canal.
Desejo que aqueles que são espetadores sejam cada vez mais exigentes para que os canais se preocupem com a qualidade e não se tornem espetadores passivos que consomem tudo o que lhes dão. Cabe ao público fazer a fasquia da qualidade subir.
Obrigado