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Em Entrevista – Sandra Felgueiras: «A informação é garantia da liberdade»
Poucos sabem, mas Felgueiras não é o seu último nome. Mesmo assim recusa-se a alterá-lo. Ligada à terra onde nasceu, a jornalista está neste momento a desempenhar funções na RTP2, como pivô do noticiário Hoje, e na RTP1 em Sexta às 9. No entanto, tudo começou na SIC. Passou ainda pelo semanário Expresso e em 2000 chegou então à estação pública.
Apaixonada pela profissão, a jornalista falou em exclusivo com o Quinto Canal. Fique agora a conhecê-la um pouco melhor.
Em Entrevista com… Sandra Felgueiras!
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I
Quem é a Sandra Felgueiras?
Talvez fosse mais fácil cara-a-cara. É difícil dar uma resposta honesta, sem parecer pretensiosa. Há, no entanto, um desabafo recorrente entre os meus amigos de sempre que ajuda a perceber quem sou. Sempre (ou quase sempre) que nos reunimos – algo que infelizmente vai acontecendo de longe a longe – repetem: “ tu não mudaste nem um bocadinho, miúda!”
O jornalismo sempre fez parte dos seus sonhos quando era mais pequena?
Sempre. Em criança já tinha um fascínio especial pela “caixinha mágica”. Perguntava com insistência ao meu tio-avô (com quem passava serões a ver televisão) como é que se entrava “lá para dentro”. Calculo que as respostas não fossem tão esclarecedoras e contundentes quanto precisava, porque me lembro de repetir a pergunta com regularidade. Na primária, aprimorei as perguntas e respostas e comecei a saber explicar por que gostaria de ser repórter. Como falava pelos cotovelos, não consegui surpreender ninguém. Depois, passei o liceu inteiro a repetir que, no final, iria para a faculdade em Lisboa “porque era lá que conseguiria construir uma carreira”. 30 anos depois, tenho pena de continuar a pensar o mesmo. Nada mudou. Pelo contrário.
Fez o seu estágio curricular na SIC. Nessa altura já era uma mulher de fortes ambições?
Mulher de fortes ambições? Não diria. Tenho metas e luto por elas, mas já conheci obstáculos suficientes para saber que ninguém é feliz se viver em função de uma ambição que pode nunca vir a concretizar-se. Sou uma comunicadora, por natureza, e sinto-me recompensada por poder ser útil aos outros. O jornalismo tornou-se o exercício desta missão.
É uma apaixonada pela profissão. Porquê esta paixão pelo jornalismo?
Devolvo-lhe outra pergunta: já imaginou o que seria do mundo se não houvesse jornalismo por um dia? A informação é a garantia da liberdade. Ser um instrumento do valor maior da democracia não é apenas uma paixão, é uma honra! Ao longo de mais de 10 anos de carreira, ajudei pessoas das mais diversas formas, denunciei ilegalidades e repus a verdade em vários casos. Não me arrependo de nada. Apenas do que ainda não fiz, certa de que ainda vou a tempo.
É vista por muitos como uma mulher de aço. Acha que é um exemplo para o sexo feminino português?
Não. Há muitas mulheres e homens que encaram a vida com a mesma determinação e coragem. Com os pés bem assentes na terra. Sabendo quem são quando se olham ao espelho.
II
Como tem acompanhado o desenvolvimento do jornalismo em Portugal?
Com atenção. Aos bons e maus exemplos. Tem havido um pouco de tudo. A minha geração tem dado provas de grande capacidade e dinamismo. Introduziu um “ar da sua graça” ao jornalismo escrito, radiofónico e televisivo, mas ainda lhe falta revolucionar o sistema. O mundo mudou. Veja-se o cinema, as redes sociais, a globalização da informação através do Google e outros motores de busca. Hoje em dia, qualquer adolescente tem acesso a informação que há 15 anos era absolutamente inacessível a quem não trabalhasse no meio. O mundo do século XXI é outro. Nós ainda somos os mesmos. Reinvenção, precisa-se!
É difícil conciliar a apresentação do noticiário Hoje com o Sexta às 9?
Tudo na vida é uma questão de hábito e de método. Com organização, nada é impossível.
Já sofreu algum tipo de pressão na RTP? Como reagiu a isso?
Nunca fui pressionada, mas costumo dizer que normalmente os autores das pressões sabem quem podem pressionar e quem não vale a pena “incomodar”.
Em relação às propostas dos outros canais, já alguma vez recebeu um convite que a fizesse pensar duas vezes?
As propostas que um dia recebemos e que nunca se concretizaram são como os sonhos: vivem apenas no nosso subconsciente.
Acompanha a informação da concorrência? Considera que a da RTP é mesmo a melhor?
A informação televisiva em Portugal tem melhorado substancialmente em todos os canais, muito graças à concorrência, que é salutar em qualquer área. Neste contexto de enorme competitividade, a RTP tem conseguido responder ao desafio com muitas investigações próprias e reportagens exclusivas, feitas pelos grandes repórteres que tem. A GFK, à custa de uma medição comprovadamente ineficaz de audiências que finalmente terá de corrigir, tem posto em causa o valor desse trabalho e mentido sobre a relação de confiança que existiu sempre entre os telespectadores da RTP e o serviço público. Mas nada disso nos demove. A verdade é a nossa bússola.
Apesar de não ser transmitido há já umas semanas, sente que o Sexta às 9 veio revolucionar a forma como algumas pessoas olhavam para a informação do primeiro canal?
Revolucionar também me parece exagerado, mas julgo que contribuiu para reforçar a qualidade da grelha. E marcou. Marcou muito. E essa é a nossa maior vitória. Há cada vez mais pessoas a perguntarem-me: “ o que tens guardado para esta semana?” Fizemos uma curta pausa para férias, mas vamos voltar agora em Setembro com grandes investigações, que é disso que o país precisa.
Como vê o trabalho realizado por José Alberto Carvalho e Judite de Sousa na TVI?
De dois extraordinários profissionais, não se poderia esperar menos do que um extraordinário desempenho.
III
Ao fim de todos estes anos qual a reportagem que mais a marcou?
É uma pergunta difícil. Tenho muitas que jamais esquecerei. Outras com as quais cresci. E outras que marcaram mais os telespectadores do que a mim própria. Mas há uma da qual nunca falei, mas que ainda hoje me faz chorar. Acima de tudo pela imensidão humana que descobri no interior de uma escola que disponibilizou aulas de violino a crianças com muitas dificuldades económicas, para não falar nas outras. O trabalho durou 3 dias mas o que aconteceu durante esse tempo chegou para mudar a escola, mudar uma família e mudar uma parte de mim. A música dobrou corações. Até os mais carregados pela violência e pelas privações de toda a ordem. Pouco depois, o pai de uma dessas crianças morreu. A única memória que a família guardara dele era o DVD que lá fui deixar, no dia seguinte à transmissão da peça. Hoje, o filho que tocava violino tem 15 anos. Soube que já tem namorada e está muito feliz. A recordação daquele olhar triste a carregar um rosto de menino ainda permanece guardada cá dentro. Saber que está finalmente feliz, deixa-me incrivelmente contente. A paixão pelo jornalismo? É isto. Há quem lhe chame muita coisa, eu chamo-lhe viver para fazer bem aos outros.
Atualmente, com o Sexta às 9, passou a ser seguida por mais portugueses e, por conseguinte, ganhou uma maior visibilidade. Numa entrevista anterior garantiu que as pessoas a conheciam pouco. Isso mudou?
Sinceramente não sei, nem penso nisso. Há muitas pessoas que me abordam carinhosamente, outras que me enviam mensagens via Facebook, mas nada exagerado. De resto, eu também me visto de uma forma muito informal, que nada tem a ver com a imagem com que me apresento nos noticiários. Acho cada vez mais que é um “disfarce” perfeito.
Onde se vê daqui a 10 anos?
Vejo-me a ser ainda mais feliz, onde quer que a vida me leve.
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Nota: Este artigo está escrito sem o novo acordo ortográfico
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Obrigado e muita sorte para o futuro!