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Francisco Penim: «A TVI continua incrivelmente letárgica» – 7 Dias/7 Entrevistas
Ficou conhecido pela maior parte dos telespetadores a partir de 2005, pelo facto de ter abraçado a direção de programas da SIC generalista. Antes disso, deu cartas no universo do Cabo, no qual fundou, por exemplo, a SIC Mulher ou a SIC Radical. Passados mais de dez anos desta aventura, Francisco Penim é agora cronista da Notícias TV tendo, pelo caminho, iniciado uma produtora de televisão: a Cherry Entertainment.
O 5º Canal esteve à conversa com ele, e ficou a conhecer melhor os seus objetivos a médio/longo prazo e a forma como olha hoje para o passado.
Seja bem-vindo a mais uma entrevista no âmbito da iniciativa 7 Dias/7 Entrevistas!
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I
Já passaram quantos anos desde que começou a trabalhar na estação de Carnaxide? Como surgiu a oportunidade?
Já passaram 15 anos! Estive mais de 10 anos na SIC desde 1997 a 2008. Entrei a convite do Artur Albarran e do Emídio Rangel para coordenar o Imagens Reais.
Na altura, foi um dos responsáveis pelo lançamento da SIC Mulher, SIC Radical e SIC Gold. O cabo, desde cedo, foi um desafio para uma estação como a SIC?
Nos canais temáticos da SIC a equipa liderada por mim lançou a SIC GOLD, a SIC RADICAL, a SIC MULHER e a SIC COMÉDIA. Foi um desafio muito interessante fazer canais de televisão com pouco investimento e alto rendimento, com uma equipa muito pequena e talentosa e numa altura onde muito poucas pessoas sabiam como se podia fazer televisão para nichos de público.
A SIC Mulher e a SIC Radical são hoje dois casos de sucesso. Quando acompanha a emissão destes canais pensa que parte do sucesso atual conquistado se deveu a si?
Não. Penso que fazem parte da minha vida profissional, do meu percurso, que deixei a estrutura e o negócio montados, que contribui para que a SIC se preparasse para o futuro e, principalmente, fico tranquilizado pelo facto de as pessoas que lá estão terem empregos estáveis em projectos ganhadores.
II
Em 2005 passou a ser diretor de programas da SIC generalista. A que se deveu esta promoção?
Tem de perguntar isso ao Dr. Balsemão. Ele é que depositou confiança em mim para liderar a estação. Eu só lhe posso estar agradecido.
Em algum momento nesta função se arrependeu de ter aceitado o convite que lhe foi endereçado?
Nunca. Sempre vivi o cargo perante o seu carácter efémero, dando o meu melhor todos os dias.
Uma das suas primeiras decisões foi terminar com o recém-estreado Senhora Dona Lady, conduzido por Herman José e Sílvia Alberto. O que o levou a chegar a esse ponto?
As audiências do programa e o facto de o conteúdo estar a danificar a imagem da estação.
Apesar das críticas durante o seu percurso na SIC, a verdade é que conseguiu lançar um fenómeno de audiências e de marketing nunca antes visto. Quantos milhares de euros ganhou a estação com a Floribella?
Felizmente foram milhões!
Tentou repetir a dose com Chiquitas, mas o resultado não foi o mesmo. O que falhou?
As pessoas não aderiram ao Chiquititas da mesma forma como tinham aderido à Floribella. A razão para isso acontecer tem muitas formas e muitas causas. O que fica é que a Floribella resultou bem e que o Chiquititas resultou mal.
Vingança fez ainda parte do seu leque de produtos que agradou aos telespetadores. Pensa que foi a partir desta novela que se iniciou uma nova era da ficção em Carnaxide?
Não. A nova era iniciou-se com a Floribella, depois em simultâneo com o Jura e mais tarde com a Vingança – tudo novelas que fizeram médias superiores à estação. A melhor de todas – a Vingança.
Entre vitórias e derrotas, qual o balanço que faz atualmente deste desafio que marcou inevitavelmente a sua carreira?
Foi um desafio incrível que não trocaria por nada.
A SIC e Francisco Penim decidiram hoje, por mútuo acordo, rescindir o vínculo laboral de uma década. Ao longo de mais de 10 anos, Francisco Penim prestou um valioso contributo ao universo SIC, nomeadamente no arranque dos canais temáticos e no projecto multimédia.
(Comunicado de imprensa enviado às redações no dia 3 de janeiro de 2008)
O que sentiu quando a SIC dispensou as suas funções, convidando para o seu lugar Nuno Santos?
Senti um alívio e uma tristeza. Mas é a lei da vida… A questão do Nuno Santos não era da minha responsabilidade mas comprometi-me a fazer a melhor transição possível de modo a acautelar a posição e o trabalho do novo director.
III
Cherry Entertainment foi o projeto que se seguiu. O que significou para si a criação desta produtora?
A Cherry foi mais um desafio. Era mais abrangente do que fazer televisão, mas uma empresa mais pequena, num mercado em crise. Ainda deu para criar mais um canal temático – a SLB TV. Deixei a Cherry um ano mais tarde depois da sua criação.
Nesta altura, falou-se da sua ida para a TVI. Recebeu alguma proposta da estação?
Não falo publicamente sobre esses assuntos.
Confrontado com esta notícia, respondeu o seguinte ao Diário de Notícias: «Não vou comentar qualquer hipótese que tenha. Não confirmo nem desminto, mas há mais do que uma possibilidade neste momento. O que posso dizer é que nos próximos, poucos, meses haverá novidades.» Afinal, que projetos eram estes que falava na altura?
O que lhe posso dizer é que o único convite que aceitei, nessa altura, foi o da criação da Cherry.
Porque decidiu abandonar a Cherry Entretainment?
Saí da Cherry depois de, num ano, colocar de pé o projecto da SLB TV e de ter produzido o musical Os Produtores. 2009 foi um ano muito difícil e a Cherry e eu acordámos uma rescisão por mútuo acordo.
O que tem feito desde essa altura?
Tenho estado envolvido em trabalhos interessantes de televisão, e não só, muito menos mediáticos e igualmente desafiantes.
IV
Como olha para o estado atual da televisão portuguesa?
A televisão vive hoje dois dramas: 1. A polémica com o apuramento das audiências; 2. A crise publicitária e a diminuição dos orçamentos de grelha.
Se o futuro da RTP está assombrado pela sua possível privatização, a SIC começa agora a recuperar de uma crise que se iniciou a partir de 2000. Já a TVI lida hoje em dia com algum desgaste das suas novelas, outrora líderes de audiência indiscutíveis. O que mudou nas generalistas desde a sua passagem pela estação de Carnaxide?
O consumo de TV é diferente do que quando deixei a SIC. Os canais de cabo cresceram exponencialmente. A procura desenfreada pelo dinheiro manda nas decisões editoriais.
Esperava esta evolução?
Ninguém esperava que o cabo crescesse tanto. Nem alguém como eu que ajudou a crescer o consumo de cabo.
A falta de recursos tem afetado a produção de formatos que surpreendam o telespetador. Nos últimos tempos existiu algum que o tenha marcado pela positiva? (Se sim, qual?)
Sim, o Peso Pesado que é o melhor formato de televisão que conheço, actualmente.
Se o Cabo continuar a crescer, acha que é este o futuro em que as generalistas devem apostar?
As generalistas não podem apostar no cabo. As empresas donas das televisões é que têm de o fazer. Nesse sentido a SIC é a que está mais bem preparada. RTP e TVI limitam-se a tentar acompanhar. Quanto melhor for a estratégia no cabo de um dos operadores melhor vai ser o seu desempenho no free to air.
Acredita na criação de mais canais temáticos por parte da RTP, SIC e TVI nos próximos anos?
Claro que acredito. Há muito por fazer nessa área e especialmente na TVI que continua incrivelmente letárgica.
O novo sistema de audiências é um assunto polémico. Afinal, qual das empresas (GFK ou Marktest) dispõe de técnicas mais fiáveis e representativas da população portuguesa?
Não sei, nem ninguém sabe a resposta a essa pergunta. Tudo o que se possa dizer ou ler sobre isso é mera especulação e tentativa de manipulação de interesses.
V
Costuma dizer-se que a vida de cada um de nós dava um livro. Nunca pensou em lançar o seu?
Se escrever um livro não será sobre televisão.
Uma mensagem para os leitores do 5º Canal.
Acreditem que quem trabalha na televisão faz o melhor que sabe em função sempre do que o público quer.
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Obrigado e muita sorte para o futuro!