O mundo de «Bom Sucesso» em conversa com Antonio Fagundes e Grazi Massafera

“O maior sucesso da vida é ter sucesso em viver” é o mote para a nova novela da Globo Bom Sucesso. O Quinto Canal teve a oportunidade de estar à conversa com Antonio Fagundes e Grazi Massafera, os protagonistas, e descobrir mais sobre este ambicioso projeto.


Com estreia marcada para o próximo dia 04 de maio, Bom Sucesso teve um impacto bastante positivo no Brasil e espera-se que o mesmo aconteça em Portugal. Escrita por Rosane Svartman e Paulo Halm, a novela incide sobre os destinos de Paloma (Grazi Massafera) e Alberto (Antônio Fagundes) que se cruzam acidentalmente após uma troca de exames médicos. Ambos acabam por construir uma amizade capaz de dar um novo significado às suas vidas, tendo como elo principal a paixão em comum pela literatura. A convivência entre os dois amigos, que são oriundos de mundos diferentes, e as novas experiências que protagonizam vão afetar a todos aqueles que os rodeiam.

Numa conferência via Skype, tivemos a oportunidade, juntamente com outros jornalistas, de abordar os protagonistas sobre esta novela e o impacto da mesma. Numa conversa informal, ficámos a conhecer um pouco melhor não só os atores mas também as personagens que interpretam em Bom Sucesso, que como Antonio Fagundes descreveu: “é uma ode à vida”. Grazi Massafera acrescentou que apesar da novela começar com a temática da morte, pois a sua personagem descobre erradamente que só tem seis meses de vida, não se pode falar da mesma sem se falar de vida.

Tanto Antonio como Grazi identificaram como principal destaque de Bom Sucesso a temática da literatura. São personagens apaixonados pela literatura, que gostam de ler, trocar livros, histórias, poemas. São feitas leituras durante a novela e as personagens acabam por se relacionar, tendo como o ponto de ligação entre eles a literatura. Inclusive, Antonio iniciou um podcast inspirado na novela intitulado O Clube do Livro do Fagundes onde apresentava várias sugestões literárias para os seus ouvintes. Um dos principais problemas que se anteviam antes da estreia da série no Brasil era precisamente o horário de exibição, às 19h. Grazi referiu que o receio se deveu a várias questões culturais e principalmente por as pessoas lerem pouco no Brasil. Antonio acrescentou informação pertinente ao tema, referindo que, num estudo feito há alguns anos, 80% dos brasileiros jamais leram um livro. “Ainda sobram 20% que até é um número bastante grande num universo de 210 milhões de habitantes. Mas a média de leitura desses 20% é de um livro por ano. Então nós temos aqui números muito tristes. Nós vimos, que todos os livros citados na novela tiveram durante o período da novela, um aumento de venda de 15 a 20%”. Grazi acrescentou que “esta novela foi acolhida numa maneira linda” e que um dos pontos altos é precisamente as leituras que Alberto faz a Paloma.

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“Uma das coisas mais mágicas da leitura é exatamente você imaginar, criar o cenário, a roupa, a forma como a pessoa está falando. Você entra naquele universo mas ao mesmo tempo você constrói aquele universo ao seu redor. É isso que é a grande mágica. Quando você se concentra e sai do mundo” (AF). No decorrer da novela vai existir igualmente a temática do Sonho e a interpretação do mesmo, que Antonio descreve ter sido feita com imensa categoria e bom gosto, apesar de forma simples. “Acabou por ser algo mais, a interpretação que a Paloma dava ao tipo de leitura que ela tinha, que era extremamente popular mas ao mesmo tempo extremamente fiel ao que ela estava lendo” (AF). Esta interpretação irá resultar em cenas engraçadas onde as personagens irão representar vários papéis em vários cenários diferentes.

O ponto forte de Bom Sucesso acaba mesmo por ser a relação entre os dois protagonistas, definidos como um casal atípico, pois o romance deles não é como os de outros casais na novela. “O Alberto traz para ela clássicos, interpretações diferentes que ela teria sobre os livros, a vida […] Ele traz para ela uma referência paterna e homem, como o homem que ela queria ter do lado, com uma inteligência, sabedoria de vida.” Por outro lado, “Paloma traz muita vida, no sentido em que ele se jogou naquele mundo literário ele se enfiou naquela biblioteca mas ele não sabia o que era muita coisa. Ela começa a levar ele para todos os lugares que ela acha lindo e ele fica encantando. Estava tudo ao alcance da mão dele e ele nunca foi”. Descrevendo Paloma como uma personagem forte, ambos os atores gostaram muito desta história pois as suas personagens acabam por se complementar de uma forma muito bonita.

“A gente está num momento onde vão surgindo personagens fortes e estão tendo mais aceitação até. Sempre houve, mas estou achando que hoje em dia há mais então é um momento especial para a gente […] A Paloma ela é uma pessoa do quotidiano. Antes esse tipo de personagem não atraía muito público. É muito real. É uma coisa que eu sinto. E hoje, essa dona de casa, essa mãe de família, essa mulher que busca um lugar ao sol […] Ela busca além do amor. Ela busca uma possibilidade de vida para ela e para os filhos” (GM).

Quando questionados sobre os desafios na interpretação das suas personagens, ambos os atores destacaram a dificuldade que é manter a frescura de uma novela que demora algum tempo a ser gravada. Existe uma luta diária em manter uma boa qualidade de trabalho, conciliar horários, mudar cenários, envolvendo uma logística que tinha que ser muito bem feita, considerando que demoraram cerca de um ano a gravar a novela. Para Antonio a mudança de cenário foi quase inexistente, pois a sua personagem está confinada a uma cadeira elétrica. Contudo, para Grazi existiu uma logística mais complexa mas ambos os atores consideraram que foi uma experiência muito prazerosa e que se divertiram muito.

Durante as gravações de Bom Sucesso, Antonio criou momentos de leitura para os seus colegas e de certa forma encorajou que os mesmos se interessassem pelo tema. Grazi acabou por confessar que foi graças a Fagundes que começou a ler mais. E que este a incentivou a não decorar as suas cenas com ele e a ler apenas antes da gravação, o que lhe deu mais autoconfiança. Confessou também que infelizmente faz parte das estatísticas que Fagundes falou: “quando eu queria ler, tinha que me enfiar debaixo da cama porque a minha mãe sempre perguntava o que estava a ler, dizia para eu parar e ir trabalhar ou ir limpar a casa. Eu era reprimida quando eu queria ler. Quando eu pegava um livro já em adulta, eu sentia aquela repressão do momento da infância. A novela me ajudou a curar” (GM).

Uma vez que as suas personagens descobrem que têm apenas seis meses de vida, os atores foram questionados sobre o que fariam se estivessem nas mesmas condições. Para Antonio, o importante seria ter uma trajetória tranquila, digna e com felicidade até ao último momento, como a sua personagem Alberto: “O meu personagem é bastante interessante nesse sentido porque ele tem uma certa tranquilidade. Ele é um homem vivido. A paixão que ele tem pelos livros, sendo um editor bem sucedido, faz com que ele viva estes últimos seis meses com muita tranquilidade […] O Alberto se cerca do amor que ele tem pelos livros, se cerca de pessoas que amam os livros tanto quanto ele e acabam indiretamente amando ele também”. Por seu lado Grazi, já várias vezes questionada sobre o mesmo assunto, admite que fica sempre “encabulada” porque é difícil pensar nisso. Mas que o essencial seria rodear-se das pessoas que ama, visitar sítios que lhe trouxeram boas memórias mas que provavelmente não tomaria as mesmas decisões que a sua personagem: “Agora a Paloma ela teve uma vida meio que privada, teve uma gravidez muito jovem ela sai fazendo loucuras e eu me diverti muito através dela fazendo essas loucuras. Até ao ponto em que ela chega e vê que nada daquilo a prende”.

“O importante não é se preocupar com a morte e sim com a qualidade da vida que você tem até esse momento”

António Fagundes

Abordando igualmente uma das temáticas da atualidade, ambos os atores consideraram que este era um tempo para respirar. Devido ao Covid-19 será complicado reunir o pessoal para gravar mas que para a televisão isso não será problema, pois tem muito material que poderá exibir novamente. Na visão de Antonio, o Teatro é que vai perder bastante com esta pandemia e que no final dela terão que ser muito os esforços para preservar as salas de Teatro. Já Grazi aproveita este tempo e casa para se reconectar com a filha, pois devido ao longo tempo de gravação para de Bom Sucesso, acabou por estar muito ausente: “nesse tempo de quarentena a gente está podendo se reconectar e fazendo roupinhas, experiências, plantar feijãozinho”. Contou também que a filha assistiu à novela e que queria sempre saber mais sobre as personagens, tendo inclusive se encantado pelo vilão. Quando questionada sobre a importância da nomeação de um Emmy, Grazi destacou que apesar de não ter a noção naquela época, a “ficha foi caindo”. Aumentou o interesse e respeito pelo seu trabalho e que se apaixona cada vez mais pela sua profissão, que, no contexto da pandemia atual, está cada vez em maior destaque pois a arte tem sido o grande apoio para quem está fechado em casa.

Bom Sucesso estreia em Portugal numa altura em que a temática não poderia ser melhor. A novela propõe que a literatura é um meio para se viver mais intensamente e agora mais do que nunca, devido ao facto de que a tecnologia permite trazer para dentro das nossas casas mundos inteiros, temos a possibilidade de ampliar esse mundo interior: “não se desespere, se você estiver a vida inteira no interior, o mundo é muito grande, mesmo você não saindo de casa” (AF). Grazi afirmou que a novela despressuriza pois “os diálogo são pontuais e focados em relacionamentos, na família. Como se conectar novamente. O Alberto passa por isso, uma vida dedicada à profissão. Chega o momento em que ele tem pouco tempo mas ele tem que se conectar com aquilo ali, com os filhos, com a neta […] e tudo isso fica muito mágico.”

Ambos os atores não pouparam elogios à equipa técnica, aos autores e colegas, afirmando por diversas vezes que o roteiro estava muito bem conseguido: “uma união muito forte de todas as pessoas em torno desse trabalho”. E esperam que o sucesso que a novela teve no Brasil se reflita em Portugal, realçando que as produções brasileiras, apesar de serem um produto de entretenimento, têm tido uma preocupação cada vez maior em colocar em discussão alguns temas importantes, para o público visualizar e pensar um pouco a sociedade em que vive. E que essas temas não são exclusivos do Brasil e que por isso acreditam que os portugueses vão gostar bastante de Bom Sucesso. Afirmram também que esta novela é uma novela familiar, pois tem personagens de todas as faixas etárias, e que por isso será fácil de juntar a família em frente à televisão: “Eu estou com inveja de vocês, porque gostaria de ver a novela toda de novo!” (AG)

Inês Calhias

Licenciada em Ciências da Comunicação pela Escola Superior de Educação e Comunicação da Universidade do Algarve, desde cedo adquiri um enorme interesse por séries. Tento ver um pouco de tudo e apresentar aqui no Quinto Canal o que se passa no panorama televisivo.

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