Entrevista – Paulo Carvalho | Especial «PLAY: Prémios da Música Portuguesa»
A uma semana de se realizar a edição 2024 dos PLAY: Prémios da Música Portuguesa, o Quinto Canal dá a conhecer aos seus leitores um pouco da história do evento e não só, através de uma entrevista exclusiva com Paulo Carvalho, responsável pela criação e direção dos PLAY.
Como surgiu a ideia de criar os PLAY?
Como fui agente e manager de vários artistas entre 2001 e 2019, sempre senti que havia a necessidade de promover e de celebrar o talento da música nacional. No entanto, a criação de uns prémios com esta complexidade exigiu que, por um lado, tivesse convidado o Pedro Alegre — atual diretor de projeto e produtor-executivo — para juntos delinearmos as bases do projeto e, por outro, contactado as entidades que gerem os direitos das editoras (AUDIOGEST) e os direitos dos artistas (GDA), que prontamente concordaram em se tornarem os promotores oficiais dos PLAY – Prémios da Música Portuguesa.
Foi assim que, em finais de 2018, se tomou a decisão de avançar com a primeira edição dos prémios oficiais da música portuguesa, a qual decorreu a 9 de abril de 2019.
Das sugestões à seleção dos artistas, como é feito o processo de eleição de todos os nomeados?
Confesso que é um processo muito complicado, que tem vindo a ser aperfeiçoado ao longo dos últimos cinco anos, mas que vou tentar resumir. As nomeações são feitas de três formas. Primeiro, há categorias sujeitas a candidatura por parte do artista, agente ou editora (Melhor Álbum Fado, Melhor Álbum de Música Clássica e Erudita, Melhor Álbum de Jazz, Melhor Videoclipe, Artista Revelação, Prémio Lusofonia, Melhor Música Ligeira e Popular).
Relativamente às categorias Artista Revelação e Prémio Lusofonia, a nomeação é feita por uma Academia composta por cerca de 235 elementos ligados direta ou indiretamente à música portuguesa, como agentes, managers, técnicos, produtores musicais, programadores de festivais, programadores de auditórios, jornalistas ligados à área da música. As candidaturas das restantes categorias são alvo de análise por comités específicos, constituídos por três elementos cada, que nomeiam as quatro obras. Segundo, há categorias que estão apenas sujeitas ao processo volumétrico, ou seja, à performance das vendas (Melhor Álbum, Melhor Artista Feminina, Melhor Artista Masculino e Vodafone Canção do Ano), as quais que são trabalhadas por uma empresa que recolhe e classifica as vendas das obras editadas no ano anterior.
Daqui são criadas listas de 30+, as quais são colocadas à consideração da Academia, que assim vota e decide os quatro nomeados por cada categoria. Por último, há ainda o Prémio da Crítica e o Prémio Carreira, ambos sem nomeados. No primeiro caso, um painel de 10 jornalistas vota individualmente naqueles que considera ser os 10 melhores álbuns editados no ano anterior, sendo depois, do conjunto dessas votações, encontrado o álbum vencedor. O Prémio Carreira é escolhido pelas direções da AUDIOGEST e da GDA.
Existe algum cuidado especial a ter na preparação de um evento com esta magnitude?
Costumo dizer que esta é a produção mais complexa na qual já trabalhei em toda a minha vida. É necessário um cuidado muito especial em dezenas de áreas, começando no concurso — que tem início cerca de 6 meses antes do evento — até ao after show party, que acontece logo depois da gala. No entanto, o dia da cerimónia é quando muita coisa pode correr mal e, por isso, também é quando a atenção de todas as equipas está ao rubro com todos os pormenores.
Costuma haver muitas exigências por parte dos artistas para a criação das suas atuações?
Na verdade, não se verificam exigências, pois a produção de cada atuação é um processo conjunto — entre as equipas dos artistas e as equipas de produção do evento — que tem como objetivo tornar cada atuação num momento único.
Torna-se complicada a gestão da realização dos PLAY com base na agenda dos artistas para poderem marcar presença na cerimónia?
Desde a primeira edição que os Prémios PLAY decorrem sempre numa quinta-feira, no sentido de tentar ter a maior parte dos artistas livres de concertos. A verdade é que é impossível ter todos os artistas no evento, pois muitos deles estão ocupados com as suas digressões. No entanto, ficamos felizes pelos artistas terem trabalho, pois um dos objetivos maiores dos PLAY é promover e aumentar o consumo da música portuguesa, seja através de audição nas plataformas ou em discos, ou nas suas atuações ao vivo.
O Coliseu dos Recreios sempre foi o local escolhido para receber o evento desde o início. Como surgiu essa escolha?
É um local mítico e ao mesmo tempo com as dimensões e condições técnicas adequadas ao perfil do evento. No Coliseu já nos sentimos da casa, o que é uma grande vantagem.
E alguma vez foi colocada a hipótese de os PLAY se tornarem “móveis” e serem realizados noutra cidade portuguesa, apostando na descentralização?
Já. Contudo, será necessário um forte investimento financeiro nesta descentralização, sobretudo no que diz respeito a acomodação de centenas de profissionais que têm que permanecer nessa cidade durante muitos dias. Mas sim, é possível, desde que existam os tais recursos.
Qual a história mais caricata vivida nos bastidores dos PLAY e que não foi captada pelas câmaras de televisão?
Curiosamente não tenho assistido a situações caricatas nos bastidores dignas de relato, mas costumo dizer que a maior curiosidade dos bastidores dos Prémios PLAY é observar como é que o backstage alberga cerca de 680 pessoas a trabalhar no dia do evento.
Pela primeira vez haverá uma categoria dedicada à Música Popular e Ligeira. Como surgiu essa ideia?
Foi uma integração natural. É impossível passar ao lado da forte implantação que a música ligeira e popular tem em todo o país, em todas as nossas festas populares, romarias e até festivais universitários.
Numa época em que cresce o consumo de música nacional no streaming e não só, é cada vez mais importante existirem este tipo de eventos para premiar o que de melhor é feito em Portugal?
Acredito que, quando um evento exclusivamente dedicado à música portuguesa acontece em prime time, em direto, durante três horas na televisão generalista portuguesa, possamos ter uma pequena influência nesse crescimento de consumo de música nacional. Além disso, é um programa que exalta a autoestima nacional, o que também faz falta ao nosso país.
Sendo já um marco no panorama musical e não só, que balanço fazem da evolução dos PLAY até à data?
Estamos muito felizes, porque é uma evolução a vários níveis. Por um lado, temos a comunidade artística e a indústria da música cada vez mais envolvidas nos prémios; por outro, e contra todos os prognósticos, temos um programa exclusivamente dedicado à música (sem ser reality show) com uma evolução positiva nas audiências de TV e um clipping de media a aumentar de ano para ano, o que quer dizer que o público está connosco.
O que pode o público esperar desta sexta edição do evento?
A melhor de todas as edições, espero. A experiência de produção é cada vez maior e a implantação da marca também, pelo que espero que, mais uma vez, possamos melhorar a qualidade do programa, bem como aumentar os índices de popularidade do mesmo. Tudo isto a bem da música portuguesa.