Maria Camargo está há 20 anos na Globo. É roteirista de TV e cinema, escritora e formada em Cinema pela PUC. Na Globo, escreveu o Linha Direta, Por Toda a Minha Vida e foi colaboradora em Lado a Lado, novela vencedora do Emmy Internacional em 2013. No âmbito da estreia da minissérie Assédio na Globo, trazemos até anos nossos leitores mais uma entrevista exclusiva à autora Maria Camargo, gentilmente cedida pelo canal.



Como define a minissérie Assédio?

A minissérie é uma história de ficção, livremente inspirada no livro A Clínica – A farsa e os Crimes de Roger Abdelmassih. É a história sobre um mundo que está mudando, está em transformação. De uma sociedade que há muito tempo está calcada em um modelo machista de funcionamento, de coisas que são consideradas naturais e normais, e não deveriam ser. Os assédios e, sobretudo, os abusos e a violência sexual são o ponto mais radical desse funcionamento, porque é justamente disso que estamos a falar. E falamos dessas mulheres, vítimas desse sistema, que são atacadas por um médico especialista em fertilização. São mulheres que estão com uma fragilidade emocional, que desejam muito um filho e se sentem fracassadas por não ter. Então recorrem a esse homem, como última esperança de realizar esse sonho. Assédio vai falar sobre essas mulheres que em algum momento deixam de ser apenas vítimas de assédio e violência sexual e passam a ser protagonistas das suas histórias. Elas representam esse mundo que está mudando.

Como surgiu a ideia de escrever esta minissérie? O que a motivou a falar sobre o assédio e a fertilização/maternidade?

Tive filho muito jovem, com 21 anos, e sempre quis ser mãe. Até colecionava revista de bebés. Era uma obsessão. Pensava que se tivesse problemas para ter filhos seria muito infeliz. Eu faria de tudo na vida, no mundo, para ter um filho Tenho uma grande empatia por esse desejo imenso de ser mãe, me choco com a violência que as vítimas de Roger Abdelmassih sofreram e admiro a forma com que a enfrentaram. Desde que ouvi falar da história dos abusos sexuais do médico senti que era uma história icónica, de grande significado simbólico. E que poderia inspirar uma história de ficção que falasse não só dessas vítimas, mas de todo um sistema, de um modo de funcionamento social que permite que coisas assim, tão violentas e tão absurdas, aconteçam. E, ainda mais importante, a história também aponta para mudanças nesse funcionamento que estamos vendo e sentindo acontecer. Espero que esta minissérie, além de entreter, possa ser mais um elemento para reflexão.


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Como foi a parceria com a diretora Amora Mautner?

É a primeira vez que trabalhamos juntas. Ela gosta da forma que escrevo, eu gosto da forma como ela dirige. Já tive uma experiência como assistente de direção há muitos anos, me formei em Cinema. Isso está na minha escrita de alguma forma, e a gente afinou o gosto. Temos o mesmo tipo de observação e coisas que a gente gosta. Durante todo o processo da pré-produção, e desde que ela entrou no projeto, sempre tivemos muita afinidade. Achei muito bem serem duas mulheres no projeto. Ela tem muito olho, tem uma percepção muito rápida da mecânica da cena e muita energia para fazer aquilo acontecer. Acho bem interessante a energia que ela coloca no set de gravação.

Como foi a inspiração para criar a personagem Mira (Elisa Volpatto)?

A Mira é um personagem ficcional que, de certa forma, representa os jornalistas que tiveram um papel importante na história e servem de inspiração para a minissérie. Ela é um personagem icónica para representar a classe, assim como as seis vítimas vão representar aspectos dessa história que envolveu tantas outras mulheres, mas são todos ficcionais.

Quem são os protagonistas dessa história?

A primeira vítima, que é a Stela (Adriana Esteves), é a primeira que aparece, portanto, é a que perpassa tudo. Ela ganha um peso maior porque é a primeira que a gente vê sendo atacada. Mas se trata mesmo de um multiplot, com cada mulher sendo protagonista de seu próprio núcleo, sua própria história. E há também os núcleos de Mira (Elisa Volpatto) e, claro, de Roger (Antonio Calloni). Mas o foco são elas, as mulheres. Pode-se dizer que o tema que une todos esses personagens é mesmo o grande protagonista dessa história.

Como foi o processo de escolha do elenco?

Alguns atores eu já tinha em mente, mas trabalhei e troquei bastante com a Amora e com o produtor de elenco, Guilherme Gobbi, tanto para sugerir pessoas, quanto na aprovação dos testes.

Com espera que o público receba esta minissérie?

Não vai ser fácil, mas espero que Assédio gere debate e, claro, entretenha. Uma história bem contada pode, sim, ajudar a mudar certas coisas – ainda que seja, claro, uma parte ínfima de tudo o que deve ser feito. Ao menos, é o que a dramaturgia pode fazer, o que está ao meu alcance como autora.


CRÉDITOS: Globo/ Raquel Cunha

André Kanas

http://www.facebook.com/andrekanas

Diretor, Redator e Gestor de conteúdos das redes sociais do QC | Responsável pelas coberturas musicais e televisivas do QC | Integrou o QC em 2013, dado o seu gosto pelo mundo televisivo e não só, sendo que já navega e escreve no universo de blogues e sites de entretenimento desde 2007.

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