Entrevista – Catraia

CATRAIA é um grupo português que desde 2013 tem vindo a trabalhar para mostrar aos portugueses o seu trabalho. Lançado no final do ano passado, o primeiro CD do grupo é já uma realidade e o feedback não podia ser mais positivo. De forma a conhecê-los melhor o Quinto Canal esteve à conversa com eles e traz-lhe agora o resultado.


O início

Somos um conjunto de ideias partilhado e participado por todos

Quem são os CATRAIA? Como nasceu o grupo?
Nasceu de alguns encontros entre 3 de nós, no fim do Inverno de 2013. Queríamos fazer algo e conversámos bastante sobre o que fazer com os instrumentos na mão. Pouco depois convidámos os restantes elementos e concluímos esse processo de invenção da banda.
E a fundação do grupo é isso mesmo: um conjunto de ideias partilhado e participado por todos, em que assenta a composição e autoria das canções.
Somos: Inês Bernardo na voz; Ricardo Silva na Guitarra Portuguesa; Rui Amado na Guitarra Clássica; Adelino Oliveira no Contrabaixo e João Maneta nas Percussões. Contamos ainda com um convidado especialíssimo que é o Paulo Bernardino nos Clarinetes.

O nome fica no ouvido e é bem português. Como surgiu?
O timbre da voz da Inês Bernardo tem características de alguém muito jovem. E é assim naturalmente, sem ela fazer nenhuma colocação especial. Esse foi o motivo. A escolha da palavra ocorreu-nos porque frequentemente fazemos uso de uma ponte, nos arredores de Leiria, chamada Ponte da Catraia.

Formado por vários elementos, CATRAIA é um projeto ao qual se dedicam a tempo inteiro ou cada um tem o seu trabalho, dedicando-se ao grupo nos tempos-livres?
Temos todos os nossos trabalhos, se bem que todos ligados à música. Mas não diria que nos dedicamos apenas nos tempos livres. Diria antes que estamos na fase inicial, em que a banda precisa mais de nós do que o retorno que é capaz.

Apesar de já só agora lançarem o primeiro CD, os CATRAIA já levam quase dois anos de existência. Como tem estado a correr a experiência?
O ano de 2013 foi de composição e ensaio. Depois disso tivemos bastante contacto com o público. Fizemos alguns espetáculos em auditório e ar livre, ao longo de 2014 e para grande satisfação nossa a receção foi sempre calorosa e encorajadora. Além disso, os marcos importantes deste último ano, foram a gravação do CD e o contacto com as pessoas via internet e redes sociais. Sem dúvida que é possível chegar muito longe com essas ferramentas.

Como pretendem conquistar o vosso lugar no panorama musical português? Quais os objetivos delineados?
Nesta época difícil em que vivemos, não podemos esperar que os tradicionais parceiros no trabalho da música e do espetáculo (editoras e agências) assumam riscos pouco calculados. Estamos portanto a tentar adicionar mais valor e mais interesse ao nosso trabalho, para depois delegar essas funções em quem o possa fazer melhor que nós.
O objetivo, será sempre o de chegar ao maior número de ouvintes possível e depois serão esses ouvintes que ditarão qual o nosso lugar no meio musical.

A voz característica da vocalista, Inês Bernardo, é o ponto diferencial das outras ofertas musicais?
É um deles, e é bem importante. A voz é o principal veículo da canção, porque interpreta a melodia e a letra. É importante que seja tecnicamente boa, mas é uma muito mais interessante se for também característica e identificável. Temos a sorte da Inês ter esse timbre juvenil, que é dela naturalmente, que nós gostamos e que motivou até, o nome da banda.

catraia (1)


O primeiro Álbum

Escrevemos sobre o país, o povo e as pessoas, pelos olhos e perceção da nossa CATRAIA

Que tipo de sonoridade têm para oferecer?
Imaginem música moderna Portuguesa, com muito menos influência anglo-saxónica do que tem na realidade. Não é tradicional, mas sim moderna. Não é rock ou pop… é Portuguesa e Lusófona.

Não temem comparações com grupos de musicalidade semelhante, tais como Deolinda ou Oquestrada?
Não tememos, porque essas comparações só nos lisonjeiam. Mas podemos assegurar que não ouvimos esses artistas na tentativa de fazer algo idêntico.
No entanto sabemos que não somos os primeiros a adotar esta via de reaproveitamento da língua, instrumentos e formas musicais Portuguesas, para fazer música moderna. Além dos Deolinda e Oquestrada, há que referir por exemplo, Dulce Pontes, Diabo na Cruz, António Zambujo, Cristina Branco, Fausto… etc. E claro, estamos gratos a todos por terem ido à nossa frente, abrindo caminho.

Os temas apresentados neste primeiro CD remetem para o povo português bem como para Portugal. É vosso intuito serem o retrato do país para quem vos ouve?
Sim, podemos dizer que escrevemos sobre o país, o povo e as pessoas, pelos olhos e perceção da nossa CATRAIA. Ela personifica-se na nossa escrita e fala sobre si, sobre o seu crescimento, sobre o que a rodeia e sobre os outros. Isso leva-nos, desde a canção de amor, à evocação da infância, aos desafios de ser mulher à reflexão sobre a emigração moderna…

Cantar em português e com instrumentos típicos portugueses será um dos marcos dos CATRAIA?
Sem dúvida. São alguns dos propósitos que assentámos quando no princípio de 2013 nos juntámos para conversar e idealizar a nossa banda.

Atualmente vários grupos portugueses preferem cantar em inglês, tais como The Gift ou Silence 4, também eles da zona de Leiria. A captação de novos públicos com temas em inglês está fora de questão?
A CATRAIA é Portuguesa e canta, naturalmente em Português. Como rapariga moderna que é, deverá aventurar-se no futuro por outras paragens, principalmente pelo Português com sotaque de outros países.
O Inglês, o Castelhano o Francês… etc, não estão portanto, fora de questão, mas serão sempre exceções e dificilmente serão opções estratégicas para chegar a novos públicos. Para isso, acreditamos que o Português é a nossa melhor arma, porque é a língua em nos expressamos melhor e é a única que convive naturalmente com os nossos instrumentos e com a nossa música.

Como primeiro single apresentam Canção de Quem Cá Fica e pedem a colaboração de todos os emigrantes para a construção do videoclip. É uma forma de divulgarem o vosso trabalho além-fronteira?
Na verdade, esta ideia surgiu porque já tínhamos feito um vídeo para esta canção, em que tocamos ao vivo e queríamos fazer outro com o audio do CD.
Queríamos no entanto, algo que fosse substancialmente diferente e pensámos usar esta ideia que é óbvia, pois a letra fala sobre a vontade que as pessoas vão sentindo de abandonar tudo e tentar uma vida mais viável em outras paragens. E fazem-no com um espírito construtivo e empreendedor, deixando para nós que ficamos e para o país, o drama de os vermos partir.
É claro, que é sempre bom dar a conhecer o nosso trabalho a mais e mais pessoas.

Têm marcado presença em vários programas de televisão. Continua a ser a melhor forma de promoção?
Nós não temos um público demasiado específico. Não somos demasiado urbanos ou rurais, não somos unicamente juvenis… somos um grupo para todas as pessoas que não se importem de nos dar atenção. Portanto há imensas formas de promoção que nos são simpáticas e isso inclui a televisão.
Curiosamente, temos imenso que agradecer à blogosfera, à imprensa local e às rádios locais, que nos têm recebido de forma calorosa e nos têm ajudado imenso.

Como veem os grupos que surgem nos vários formatos de talent shows?
É certo que o objetivo desses programas é o entretenimento televisivo. Portanto, findas as temporadas, os artistas continuam a precisar de ter uma estrutura pessoal ou interna, que lhes permita produzir música boa para as pessoas, de forma continuada e sustentável. Se a tiverem, podem aproveitar o mediatismo fornecido pelos programas. Se não a tiverem, têm que suportar ainda, a responsabilidade adquirida por esse mesmo mediatismo. Cremos então, que esse programas não são nada suficientes nem determinantes para o futuro de um artista.
No caso dos programas que envolvem crianças, preocupa-nos um bocado que se possa criar uma falsa ilusão de sucesso, quando está em causa um futuro de trabalho árduo. Esperamos que esse esclarecimento e acompanhamento sejam feitos com qualidade.

O que podemos esperar dos CATRAIA neste ano de 2015?
Em 2015 podem esperar música ao vivo. Estamos a tratar de preencher a nossa agenda e está a correr bem. Estamos também a compor mais material, que será já tocado ao vivo e deverá fazer parte de um novo CD, dentro de alguns meses.

Para finalizar, poderiam deixar uma mensagem especial a todos os leitores do Quinto Canal ?
Queremos agradecer a vossa atenção e esperar que gostem do nosso trabalho. Esperamos encontrar-vos um dia destes num dos nossos espetáculos e desejamos para todos as maiores felicidades, pois de arrelias estamos todos cansados.

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Obrigado!

 

Anselmo Oliveira

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