Só Séries: Regresso de «Westworld»

Uma das séries sensação dos últimos tempos está de regresso e voltou ainda mais enigmática. Westworld provou mais uma vez o porquê de estar num patamar superior a tantas outras produções atuais.

Após alguns anos em fase de produção, Westworld estreou em 2016 e a primeira temporada foi uma das mais caras da televisão norte-americana. Custando quase 100 milhões de euros, a primeira temporada da série conquistou fãs e crítica, que a aclamaram como uma das melhores dos últimos tempos.

Com um elenco de luxo – onde constam nomes como Evan Rachel Wood, Thandie Newton, Jeffrey Wright, James Marsden, Tessa Thompson, Ben Barnes, Jimmi Simpson, Rodrigo Santoro, Louis Herthum, Talulah Riley, Ed Harris e Anthony Hopkins – a série rapidamente ganhou destaque em algumas distribuidoras internacionais.

A história centra-se num parque temático conhecido como Westworld, cujo presidente é Dr. Robert Ford (Hopkings), o brilhante diretor criativo do parque temático. Este tem à sua responsabilidade a gestão do mesmo, utilizando muitas vezes meios um pouco ortodoxos para atingir os seus fins. Este parque é povoado por robots muito semelhantes a humanos que são escravos das vontade e desejos mais sombrios dos visitantes. É que quem paga para entrar neste parque, está normalmente à procura de uma aventura perigosa ou de um hobby, matando e abusando os bots conforme a sua vontade.


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Os eventos finais da temporada anterior de Westworld ditam o rumo da história, cada vez envolta em mais mistérios. Finalmente percebemos a importância de Dolores  (Evan Rachel Wood) e o que seu awakening significa para o resto das personagens. Nesta nova temporada, os papéis inverteram-se e são os bots quem comandam o parque. Isto levou à entrada de novas personagens e novas histórias.

Uma dessas novas personagens é Karl Strand, interpretado por Gustaf Skarsgård – um dos famosos irmãos Skarsgård e que interpreta o enigmático Loki em Vikings. Strand é o chefe de operações da empresa Delos e está encarregue de retirar os humanos do parque. Contudo, a sua chegada implica muito mais porque Delos, a empresa que detém o poder sobre o parque, está à procura de um bot específico que tem informação fulcral. Essa importância é realçada por Hale (Tessa Thompson) que informa Bernard/Arnold (Jeffrey Wright) que só poderá sair do parque quando encontrar Abernathy (Louis Herthum).

These violent delights have violent ends

A primeira temporada de Westworld foi marcada pela violência e cenas sem tabus. Por várias vezes nos foram apresentados nus frontais, tanto feminino como masculino – o que raramente acontece em produções televisivas – e cenas violentas sem qualquer restrição. A violência tem sido apontado como um dos aspetos mais negativos da série mas discordo totalmente. Não hã embelezamentos, não hã desvios de plano, nada. Há simples e cruelmente a frieza de uma cena de violência totalmente encaixada no contexto da cena.

A verdade é que são mesmo imensas as cenas de tiros exibidas. E considerando o contexto social americano atual, com a procura da implementação de leis anti-armas, a série acaba por demonstrar demasiada gun violence. Mas vejamos, o cenário é um mundo de cowboys onde reinava os duelos de armas e a violência. Considerando isto, não faria sentido a série não exibir o mesmo tipo de contexto.

Por outro lado, também temos que considerar o propósito do parque. É um sítio onde os humanos extraem a sua raiva, onde praticam os seus desejos mais obscuros. Basicamente, é um sítio onde podem matar à vontade e não serem procurados por isso. Sendo uma série da HBO – cujas séries são sempre sem tabus – só seria expectável que Westworld fosse o mais realista possível.

Nothing is what it seems

Esta última ideia leva-me ao essencial da série: humanos vs bots. É o paradigma moral apresentado desde o primeiro episódio e que torna a série genial. Hopkins faz um papel brilhante como Dr. Ford, que tem o complexo de Deus naquele parque. Os diálogos entre ele, Dolores e Bernard são simplesmente brilhantes. Além de percebermos os verdadeiros motivos de Ford, percebemos a complexidade das personagens e das suas histórias. Principalmente, quando se apercebem que não passam de robots e que estão à mercê dos humanos.

O labirinto – tantas vezes falado e procurado pelo Homem de Negro (Ed Harris) – é nada mais nada menos que a procura dos bots pela sua consciência. E assim que acordam, o que farão com essa informação? E o que dá a liberdade aos humanos para fazer o que querem aos robots? Até que ponto a inteligência artificial consegue sobreviver e controlar a humanidade?

Contudo, a segunda temporada de Westworld leva já um rumo diferente nesta ideologia. Por um lado percebemos melhor porque a empresa Delos decidiu investir neste parque e que tudo não passa de um modo de obter informação privilegiada dos visitantes. Esta informação (data) vai permitir à Delos vender mais facilmente os seus produtos no mundo real (tal e qual a polémica do Facebook).

O problema é que os bots estão acordados e não pretendem dar tréguas. Ao exibirem cerca de duas/três timelines diferentes em cada episódio da nova temporada, percebemos o passado, presente e futuro. O roteiro está brilhante e consegue intercalar na perfeição estes três contextos temporais diferentes, usando bastantes easter eggs da primeira temporada. E uma coisa é certa, nada é o que parece ser…

Aviso de spoilers caso não tenham visto a primeira temporada

Inês Calhias

Licenciada em Ciências da Comunicação pela Escola Superior de Educação e Comunicação da Universidade do Algarve, desde cedo adquiri um enorme interesse por séries. Tento ver um pouco de tudo e apresentar aqui no Quinto Canal o que se passa no panorama televisivo.

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