Só Séries: Terá «13 Reasons Why» ultrapassado os limites?

Uma das séries sensação da Netflix regressou no mês passado e a segunda temporada foi ainda mais marcante que a primeira. Terá 13 Reasons Why ultrapassado os limites do aceitável?

A segunda temporada de 13 Reasons Why estreou no dia 18 de maio e criou ainda mais controvérsia do que a primeira. As cassetes foram colocadas de lado e os narradores agora são as testemunhas que partilham as suas histórias com Hannah. A mãe desta colocou a escola em tribunal por não ter tomado as medidas necessárias para assegurar a segurança da mesma. Como consequência, Clay, Jessica, Courtney, Bryce, Alex, e outros, são ouvidos em tribunal. E apesar de parecer que as coisas estão a correr a favor, o resultado final acaba por afetar ainda mais a vida daqueles que estavam ao lado de Hannah.

É que a segunda temporada de 13 Reasons Why apresenta não só o pós suicídio mas mostra, novamente por flashbacks, a ligação que aquelas personagens tinham com a falecida. E o novo drama incide sobre as provas de que Bryce violou mais raparigas e que está prestes a sair imune dos seus crimes.

E é neste contexto que a segunda temporada começa a criar alguma controvérsia. Apesar de nunca se ter inibido de mostrar cenas gráficas de violência, bullying e violação, a nova temporada conseguiu ultrapassar a sua predecessora.

violência desmedida

Sem entrar em pormenores, a segunda temporada culmina com um dos episódios mais controversos da história da televisão. Nos últimos instantes estamos perante um possível ataque de um aluno que se dirige para a escola armado a fim de se vingar de quem o tratou mal. E apesar de isto já por si ser um assunto muito frágil, considerando as dezenas de tiroteios em escolas americanas, o evento que leva este aluno a tomar esta atitude drástica é igualmente perturbador.

O problema é que a produção decidiu mostrar sem tabus o acontecimento que despoletou as ações do jovem. Este, que tinha finalmente encontrado alguma paz de espírito, é abordado na casa de banho e agredido sem dó nem piedade. Não bastando a tareia que está a levar, os agressores quase que o afogam numa sanita. E como se não bastasse toda esta violência gratuita, o mesmo é ainda violado. E digam o que disserem, para mim esta cena ultrapassou os limites.

Nem vou falar muito sobre o facto de Bryce ter saído praticamente impune do julgamento, reforçando a ideia de que os rapazes brancos da alta sociedade se conseguem safar de tudo. Ou comentar o facto de a série ter novamente mostrado que se fores rapariga e te acontecer algo, serás sempre tu a causadora das agressões que foram cometidas a ti própria. E que nem escola nem os tribunais farão justiça ao crime que te foi cometido.


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Vou falar sim do último episódio onde esta cena de pura violência, e que surgiu do nada, é o motivo porque não voltarei a ver esta série.
13 Reasons Why tem uma realização brilhante e um banda sonora igualmente boa. O elenco é fantástico e os atores carregam nas suas costas o peso emocional das cenas, que atuam de forma genial e emotiva. E mesmo nesta cena violenta, existe um enorme trabalho do elenco em a tornar real. O problema é que se torna demasiado real.

Como explicar isto a um adolescente? 13 Reasons Why primou por não ter tabus e por promover a discussão entre pais, escola e jovens sobre problemas reais. Mas não bastava ter praticamente ensinado como cometer um suicídio, mostra também uma das formas mais brutas de violação? É que ainda por cima, totalmente sem aviso prévio, simplesmente com o factor choque do seu lado.

Atenção, SPOILERS!

Se era para chocar, conseguiram. A primeira temporada fez-me realmente pensar e analisar certas atitudes de adolescente, em que muitas vezes se confundia quem era o agressor e a vítima. E todo o contexto das cassetes promoveu conversas entre adultos e jovens, promovendo também uma mensagem de que se deveria fazer mais e se importar mais com quem está à nossa volta. Esta segunda temporada foge da importância social da série e penso que uma terceira temporada só irá prejudicar ainda mais o seu impacto.

Inês Calhias

Licenciada em Ciências da Comunicação pela Escola Superior de Educação e Comunicação da Universidade do Algarve, desde cedo adquiri um enorme interesse por séries. Tento ver um pouco de tudo e apresentar aqui no Quinto Canal o que se passa no panorama televisivo.

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