Fora do Quinto #3: Dois filmes obrigatórios – «O Pianista» e «A Lista de Schindler»

O Quinto Canal tem uma nova rubrica, dedicado exclusivamente à sua opinião, mas não só! O Fora do Quinto terá como objetivo dar asas à sua imaginação e dar-lhe espaço para comentar um assunto do momento, um tema da atualidade… o que quiser.

Esta semana demos destaque à opinião do nosso mais recente colaborador André Marques, que decidiu trazer até si um texto baseado na sétima arte. Vale a pena ler!

A vida pode ser simples. E leve. Levezinha. Um sofá. Um bom sofá. Uma manta. Uma manta bem quentinha. Com bonecos ou sem bonecos. Quentinha. Ponto. O outono apetece. A queda das folhas. E o apetite ganha um novo fulgor. Outra vez o sofá. E os gatos. E os cães. O importante é haver um sofá. E um chá, sei lá. De camomila. Ou de cidreira. Um qualquer.

Sofá. Palavra enfadonha. Uma palavra que provoca um sono desmedido. O provocador. No oriente; estrado alto e coberto com um tapete. Ou assento para duas ou mais pessoas com costas e assento estofados, e geralmente com apoio de braços. Definições do estimado Priberam.

Definições à parte, o que combina verdadeiramente com sofá tem nome de filme. Ou filmes. E há histórias obrigatórias. Na minha humilde opinião, obviamente. Declaro dois que me marcaram profundamente. Para o inestimável sempre. O aclamado e premiado “A Lista de Schindler” e o igualmente destacado “O Pianista”. Duas obras primorosas que muito nos mostram o claro propósito do ser humano. Do que somos capazes de fazer por amor. Ou não.

Vamos ao que interessa. A soberana Lista de Schindler. Um filme de mil novecentos e noventa e três. Escrito por Steven Zaillian, baseado no romance Schindler´s Ark, de Thomas Keneally. E realizado por Steven Spielberg. Este registo cinematográfico relata a história de Oskar Schindler, um suplantado militar membro do partido nazi, profundamente relacionado com a SS, ou Tropa de Protecção, que progride no universo dos negócios ao liderar uma fábrica de utensílios de cozinha, após a deliberação superior que prescrevia a abstenção dos judeus dentro do universo empresarial. É importante referir que a SS foi responsável por inúmeros crimes contra a humanidade, imortalizados pelos nazis durante a Segunda Guerra Mundial. Apesar da arrogância evidente, o protagonista conseguiu acoitar mais de mil judeus durante o Holocausto.

Só uma mente brilhante como Steven Spielberg para dar força a um trabalho imensamente realista. De uma crueza impressionante. Mas necessária. Um produto dramático. Pela quantidade de barbaridades observadas. A pele rasgada na sua totalidade. Com o sangue a desbotar a dignidade. A promover a humilhação. Num espaço onde começa e acaba o inferno. Um lugar demoníaco algures no gueto da Cracóvia, uma cidade perdida na Polónia

Em suma, este é um filme que em três horas e quinze minutos tenta recriar todo o assombroso sofrimento do povo Judeu nas terríveis mãos ásperas dos alemães, no decorrer da Segunda Guerra Mundial.

Assusta saber que tudo isto aconteceu. E não no sentido metafórico. Ou nas situações criadas a partir do imaginário.

O filme que se segue trata-se de uma produção perturbante. Inquietante. O Pianista. O trabalho real de Roman Polanski. Data de dois mil e dois. Merece todos os respeitos possíveis. No plural.

A música que acalma até o mais perfeito prepotente.  Imagens comprovadas. A interpretação desnudada de Adrien Brody tornada grande. O actor que com um simples olhar absorve todo o sentimento de solidão incutido pelo personagem. A aplaudida transformação física, a barba, as olheiras avantajadas e os catorze quilos perdidos. Em prol da preparação.

Um filme que faz doer os dedos da alma. Que transmite revolta aos ossos. O carismático Wladyslaw Szpilman. O pianista de serviço. O homem que interpretava peças clássicas numa rádio de Varsóvia quando as primeiras bombas caíram sobre a cidade, em mil novecentos e trinta e nove. Com a inevitável invasão alemã e o culminar da Segunda Guerra Mundial, começaram também as proibições aos judeus polacos. As restrições nazis. Traduz-se numa perseguição incessante que levou à captura da família do famoso encantador de teclas, para os não menos famosos campos de concentração. Só mesmo Wladyslaw Szpilman conseguiu escapar. Por força do destino. Obrigado a refugiar-se em prédios abandonados pela cidade, até que o pesadelo termine. E terminou.

É a sétima arte confecionada com paixão, vocação, e, acima de tudo, com a clara necessidade de se expressar. Para o mundo. Para a vida de todos nós. Que também somos guerra. Que também somos fuga. Que também somos frieza. Que também somos humanos e pertencemos às histórias das histórias dos que nos rodeiam. Neste ou noutro tempo.

A vida pode ser simples.

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Até para a semana

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