Especial: Linda Martini no Porto

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Ponderei bastante antes de fazer este artigo. Pensei em fazê-lo de forma imparcial, descrevendo apenas o que assisti e o ambiente que me rodeava naquele sábado dia 28 de março. Mas não sou capaz. A verdade incontornável é que os Linda Martini são a banda que mais gosto e é-me impossível reproduzir o ambiente em que estive sem os elevar ao estatuto de uma das melhores bandas portuguesas da atualidade (para mim a melhor mesmo). Já assisti a concertos de bandas como Foo Fighters, Queens of the Stone Age, Muse e Metallica mas nenhuma delas conseguiu arrepiar-me os pêlos da nuca como os Linda Martini conseguiram.

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A 5 de março a banda anunciou no seu Facebook oficial que já tinha saudades do suor dos fãs. Após dois concertos eletrizantes no Lux em Lisboa, onde as barreiras entre os artistas e o público são inexistentes, os Linda Martini reviveram um pouco as suas origens e decidiram rumar a norte para prendar os fãs com concertos em locais que oferecessem essas mesmas condições: público e banda como um só, sem qualquer espaço a separá-los. Os locais escolhidos foram Coimbra a 27 de março no Salão Brasil, Porto a 28 de março nos Maus Hábitos e Maia a 29 de março no Tertúlia Castelense.

Tive o prazer de estar presente no concerto da cidade Invicta e o ambiente não podia ser melhor. Numa noite de tempestade o ar dentro do espaço apertado (lotação de 100 pessoas) do local não podia ser mais quente e vibrante. Enquanto estava na fila para levantar os bilhetes, comecei a ouvir murmúrios: “Olha eles”, “Estão aqui mesmo ao lado” – ouvia-se sempre que a fila avançava e se passava ao lado do salão nobre transformado em restaurante. Os Linda Martini estavam mesmo ao lado dos fãs, convivendo todos no mesmo espaço e respeitando sempre a privacidade da banda. Enquanto aguardava pelo início do concerto tive o prazer (momento à fangirl histérica) de estar na mesa ao lado destes grandes senhores. O que isto tem de importante? Bem, não há vedetismos e a banda tem-se mantido sempre fiel às suas raízes. Ao contrário do que dizem na música Ameaça Menor do álbum Casa Ocupada – “E eles têm estrelas no nariz, mas eles não te dizem nada” – aqui era possível privar com os elementos da banda nos corredores do espaço.

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Foi ao som de Queluz menos Luz que os corpos embrenhados pelo álcool e fumo da sala se começaram a mover. Não existem muitos instrumentais que façam o público animar-se desta forma mas estava dado o tom para o resto do concerto. Numa fusão perfeita entre os álbuns anteriores da banda (como Casa Ocupada, Marsupial e Olhos de Mongol) e o mais recente, Turbo Lento, os Linda Martini presentearam o público com grandes êxitos que não desiludiram todos aqueles que acompanham a banda à diversos anos. A mistura entre o Turbo e o Lento foi aliás a característica do concerto. Após êxitos como Juárez, Panteão, Mulher a Dias, Cronógrafo, Pirâmica e Sapatos Bravos, que deixaram o público ao rubro, num moche constante e com diversas pernas pelo ar e quedas para cima do “palco”, provocando que os instrumentos se desligassem ou que o micro falhasse, mas nada importou. No concerto intimista que mais parecia uma reunião de família, tudo era perdoado e todos estavam a aproveitar ao máximo. Apesar de não conseguir ver a banda o concerto inteiro, também eu estava a desfrutar o mais que podia, ficando sem voz do quanto me obrigavam a cantar todas as letras justamente com a voz incomparável de André Henriques. No entanto, sempre pensando em quem os apoia, a banda pediu ao público da frente para se sentar, dando assim oportunidade para todos assistirem. O público assentiu e seguiu-se o momento “Lento” do concerto ao som de Estuque, Volta e A Corda do Elefante Sem Corda que levou o público ao rubro ou não se tratasse esta de uma música que a banda pouco toca. Seguiram-se os acordes eletrizantes de Ratos, Juventude Sónica e Belarmino onde o baterista Hélio Morais dava tudo aquilo que tinha. Sempre em conversa constante com o público, os Linda Martini apresentaram um rapaz que estava na sua despedida de solteiro e dedicaram-lhe Scratch the Surface dos Sick of It All pela voz de Pedro Geraldes, guitarrista da banda. Seguiu-se um momento discos pedidos onde o público aclamava por Amor Combate, um dos grandes êxitos da banda, também ele pouco tocado. A escolha recaiu em Territorial Pissings dos Nirvana, que como se esperava, transportou o público para o início dos anos 90 através da baixista Cláudia Guerreiro. Anunciando o fim do concerto, a escolha não poderia ser outra: Cem Metros Sereia meteu toda a gente a cantar aquelas duas frases em plenos pulmões (não as posso reproduzir aqui mas certamente todos saberão quais são). Foi o final perfeito de uma noite intimista, onde como já é hábito, Hélio Morais e Pedro Geraldes atiraram-se para o público, num crowd-surfing merecido.

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Saí de lá praticamente sem voz, cheia de dores, com uma t-shirt nova e com um cartaz autografado. Foi das melhores noites da minha vida e dos concertos mais memoráveis onde já estive. Resta-me agradecer aos Linda Martini e que continuem a espalhar o espirito punk pelo nosso país.

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